FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Apresentação
A assistência médica à mulher climatérica deve ser
direcionada para a manutenção de sua saúde, e da sua qualidade
de vida e para os aspectos preventivos. Por esta razão, devese
levar em conta os transtornos e riscos genéricos da paciente.
O conhecimento das diferentes especialidades médicas e das
doenças mais incidentes neste momento se faz obrigatório para
uma atenção adequada e de boa qualidade nesta etapa da vida.
O ginecologista tem, por sua vez, papel singular no atendimento
das mulheres no climatério. Somos naturalmente eleitos
como o seu primeiro médico. Recebemos periodicamente
nossas pacientes para consultas de rotina.
Por outro lado, vemos-nos obrigados a ampliar nossos conhecimentos,
que extrapolam os limites de nossa especialidade.
Além dos cuidados próprios da tocoginecologia em si, precisamos
também ser generalistas. Some-se a isto o constante progresso
do conhecimento médico-científico. Inúmeras são as
novas conquistas no campo diagnóstico e terapêutico. Precisamos
de educação continuada e de boa capacidade crítica para
o emprego racional de todos estes avanços.
Preocupada com este papel do tocoginecologista, a
FEBRASGO, através de sua Comissão Nacional Especializada
em Climatério, presidida na época pelo saudoso Prof. Salim
Wehba, hoje um referencial histórico no estudo do climatério
entre nós, elaborou um temário atual e apropriado para este
fim. Convidou para relatores, médicos e professores universitá8
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rios com profundo conhecimento em seus respectivos temas.
Não se trata de um consenso emitido pela FEBRASGO e sim
da visão dos relatores convidados, que, em cada um dos capítulos,
apresentam a seu juízo o estado atual dos conhecimentos
do tema relatado e os seus aspectos mais relevantes. Referimos
neste ponto, pela oportunidade, que as posições consensuais
da FEBRASGO, incluindo o climatério, vêm sendo progressivamente
elaboradas junto ao Projeto Diretrizes da AMB-CFM,
que em seu estágio atual podem ser vistos na home-page -
www.amb.org.br.
É com satisfação que concluímos o Manual de Orientação
de Climatério da FEBRASGO. Temos a convicção de que
vai auxiliar muito o ginecologista em sua prática diária. O professor
Salim mais uma vez cumpriu com competência as suas
atribuições. A FEBRASGO só tem a agradecer ao Prof. Salim e
a todos que colaboraram neste Manual de Orientação.
A Diretoria
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ÍNDICE
1. Climatério: Aspectos Conceituais e Epidemiologia.............. 112. Climatério – Aspectos Clínicos e Endocrinológicos............. 153.
Sinais e Sintomas do Hipoestrogenismo ............................. 284. Avaliação Clínico–Ginecológica no Climatério ................... 385.
Farmacologia, Metabolismo e Indicações dos Estrogênios ... 416. Progestagênios .................................................................... 517.
Androgênios – Farmacologia e Indicações no Climatério ..... 648. Anticoncepção no Climatério .............................................. 769.
Aparelho Urogenital no Climatério e Terapia Hormonal ... 10210. Nutrição, Exercícios e Estilo de Vida no Climatério ....... 11511.
Sexualidade no Climatério .............................................. 13212. Sistema Nervoso Central e Climatério –Ação dos Esteróides Sexuais no SNC ..............................
14213. Doença de Alzheimer e Terapia Hormonal ...................... 15314.
Aparelho Cardiovascular e Climatério.Epidemiologia, Fatores de Risco, Hipoestrogenismo –
Ação nos Vasos e Metabólica .......................................... 16915. Papel da Terapia Hormonal no Aparelho Cardiovascular ... 178
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16. Osteoporose – Epidemiologia, Fisiopatologia e Detecção .. 19017. Aspectos Especiais no Climatério e TH........................... 19918.
Terapêutica Hormonal (TH) – Esquemas ....................... 21719. TH – Vias de Administração – Como e Quando? ...... 23420.
Avaliação dos Riscos e Benefícios da Terapia Hormonal .. 24521. Neoplasias Extra-Genitais e Terapia Hormonal ............... 25422.
Câncer Ginecológico e Terapia Hormonal ....................... 26623. Câncer de Mama e Terapia Hormonal............................. 28624.
Vigilância Endometrial no Climatério e na Menopausa,Com e Sem TH.............................................................. 30225.
Terapia Hormonal Contra-Indicações .............................. 31626. Tratamento Alternativo à Terapia Hormonal ................... 32827.
SERM – Indicações no Climatério .................................. 33828. Fitoestrogênios no Climatério ......................................... 345 29. Acompanhamento da Mulher Climatérica ...................... 362
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1. CLIMATÉRIO: ASPECTOS
CONCEITUAIS E EPIDEMIOLOGIA
ASPECTOS CONCEITUAIS
O climatério corresponde à fase da vida da mulher onde
ocorre a transição do período reprodutivo (menacme) até a
senectude (senescência ou senilidade).Varia, em geral, dos 40
aos 65 anos, segundo a OMS.
Pode ser dividido em: pré, peri e pós-menopausa, segundo
a Sociedade Internacional de Menopausa (1999).
A pré-menopausa inicia-se, em geral, após os 40 anos, emmulheres com ciclos menstruais regulares ou com padrão menstrual
similar ao que tiveram durante sua vida reprodutiva. Há
também diminuição da fertilidade.
A perimenopausa ou transição menopausal começa 2 anosantes da última menstruação e estende-se até 1 ano após. As
mulheres apresentam ciclos menstruais irregulares e alterações
endócrinas (hormonais).
A pós-menopausa começa 1 ano após o último período menstrual.É subdividida, por sua vez, em precoce (até 5 anos da
última menstruação) ou tardia (mais de 5 anos).
Mais recentemente, tem-se dividido o climatério em transição
menopausal e pós-menopausa (Figura 1).
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EPIDEMIOLOGIA
Idade de Ocorrência da Menopausa Natural
A idade na qual se inicia o climatério é variável, mas admite-
se ser ao redor dos 40 anos. A idade de instalação da menopausa
é em torno dos 50 anos, com ampla variação entre 35
e 59 anos. Diz-se ser prematura quando se instala antes dos 40
anos e, tardia, após os 52 (para alguns 55).
Figura 1 - Nomenclatura dos estágios reprodutivos da mulher (Sociedade Americana
de Medicina Reprodutiva, 2001).
* A perimenopausa tem início com a transição menopausal e termina após um ano
de amenorréia.
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A idade de ocorrência da menopausa tem sido estudada
intensamente em sociedades ocidentais. A média etária em mulheres
da Grã-Bretanha foi de 50,2 anos. Na Holanda foi de
51,5 anos. Nos Estados Unidos, ao redor de 51,1 anos. Na África
do Sul foi de 46,7 anos; em Gana, de 48 anos e, em mulheres
tailandesas, ao redor de 45 anos. Em estudo de corte transversal,
realizado em sete países do sudeste asiático, esta média
foi de 51,1 anos. Estudo populacional recente, realizado nos
Emirados Árabes Unidos, revelou ser esta média de 47,3 anos.
No Brasil, em estudos realizados com população hospitalar a
média etária variou de 45 a 48 anos. Esta média foi semelhante
à encontrada (47,5 ± 4,9 anos) em estudo de base populacional
com mulheres residentes no Município de Campinas.
As causas das diferenças entre as idades de ocorrência da
menopausa natural nos diversos países não são claras, embora
seja aceito que fatores socioeconômicos possam estar indiretamente
envolvidos, quer por meio da educação, nutrição ou estado
de saúde. Em geral, populações de baixo nível socioeconômico
têm maior paridade quando comparadas às populações
de maior renda e este fato pode se contrapor aos outros
fatores, já que a paridade tem sido associada a menopausa mais
tardia.
Apesar destas observações, a média etária de ocorrência
da menopausa não mudou muito desde os relatos de Aristóteles
e Hipócrates há quase 2000 anos, nos quais ocorria por volta
dos 40 anos. Autores medievais referiram que a parada de menstruação
dava-se ao redor dos 50 anos, muito próxima da média
etária à menopausa da mulher do século XX, tanto nas mulheres
brasileiras, como nas de países desenvolvidos do Ocidente.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Mas afinal, o que determina a idade de incidência da
menopausa? Para os vários fatores que podem influenciar esta
idade, as evidências epidemiológicas serão pobres. Segundo
Ginsburg (1991), o fator mais importante é o número de
folículos ovarianos. A célula germinativa primordial separa-se
da célula somática em um estágio inicial da embriogênese. Entre
1000 e 2000 migram para a crista gonadal, onde se multiplicam
rapidamente, chegando a um máximo entre cinco e sete
milhões de folículos ao redor do quinto mês de vida intrauterina,
quando esta multiplicação pára. A partir de então, há
perda de folículos primordiais no ovário fetal, até que, ao nascimento,
cada ovário contém cerca de um milhão de folículos.
Este número continua a diminuir após o nascimento, independentemente
de qualquer ciclo hormonal ou do estado fisiológico
da mulher, sendo que apenas 0,01% ovulam, e os demais degeneram.
A depleção dos folículos ovarianos ocorre independentemente
de fatores fisiológicos e ambientais, até a perimenopausa.
Parece ser a data da menopausa natural geneticamente programada
para cada mulher, mas esta pode ser influenciada por alguns
fatores como a paridade, nutrição, raça e tabagismo, sendo
antecipada em até três anos.
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2. CLIMATÉRIO – ASPECTOS
CLÍNICOS E
ENDOCRINOLÓGICOS
A mulher sofre diversas modificações físicas e psíquicas
no período climatérico. O evento que designa a última menstruação
da mulher é conhecido como menopausa, derivado
das palavras gregas men (mês) e pausis (cessação). Embora sejaum fato facilmente identificável, as reais alterações do organismo
durante esta época ocorrem ao longo de um período muito
maior, daí atribuir-se importância a todo o período climatérico,
de limites imprecisos mas com alterações endócrinas e
sistêmicas marcantes. À medida que a mulher vai alcançando
idade próxima àquela da sua menopausa, as principais alterações
biológicas que surgem são decorrentes do gradual esgotamento
da população folicular ovariana. Como conseqüência,
há alteração dos ciclos menstruais e diminuição dos ciclos ovulatórios,
que culminam com a cessação completa das menstruações.
As alterações endócrinas que acompanham este quadro
são também graduais, e têm forte impacto sobre as funções psíquicas
e vegetativas.
O desenvolvimento ovariano na mulher ocorre já partir
da 5a semana gestacional, quando as gônadas indiferenciadasassumem a crista genital, e formam-se células germinativas primordiais
envoltas em um epitélio celômico. Existe um processo
de redução folicular constante até que se atinja o total esgotamento
desta reserva folicular, à época da menopausa. Os mecanismos
que regulam este processo de redução folicular não
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
são totalmente conhecidos. Parece certo que ocorrem autólise
e fagocitose das células germinativas pelas células da granulosa,
com a conseqüente formação de folículos atrésicos.
Durante a perimenopausa ocorre diminuição significativa
do número de folículos. Logicamente, tal número depende
de uma relação entre a população folicular inicial e a taxa de
atresia, que certamente tem influências genéticas. Outros fatores
também podem modificar esta relação, tais como exposição
a agentes antineoplásicos e radioterapia. O número crítico de
folículos a partir do qual os ciclos menstruais cessam é variável
de mulher para mulher, e ocorre também certa intermitência
deste processo, o que caracteriza um período de transição gradual
e acíclico.
Após a menopausa, o tamanho dos ovários reduz-se significativamente,
em conseqüência do esgotamento folicular e
das alterações involutivas, tais como esclerose arteriolar, fibrose
cortical e redução de fluxo sangüíneo. Apesar disto, os ovários
não se tornam completamente inativos, e desempenham
papel na homeostase hormonal da mulher na pós-menopausa.
Morfologicamente, é possível ainda encontrar alguns
folículos luteinizados, mas grande parte do córtex está ocupada
por lâminas difusas ou agregados nodulares de células
estromais, cuja morfologia é heterogênea, mas são principalmente
fibroblastomas, com alguma atividade esteroidogênica.
Em até 35% de mulheres entre 56 e 70 anos tem-se encontrado
proliferação de células estromais, sendo inclusive algumas
luteinizadas, o que indica atividade enzimática. As células
hilares também estão presentes nos ovários após a menopausa,
e têm um potencial esteroidogênico. Estas células es17
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
tão em relação íntima com fibras nervosas não-mielinizadas e
podem originar-se dos remanescentes embrionários ou em
forma de metaplasia a partir de células estromais. Desta forma,
a composição celular do ovário após a menopausa natural
indica que o órgão deva ter participação na esteroidogênese
da mulher neste período.
MODIFICAÇÕES ENDÓCRINAS
Esteróides
Alguns anos antes da instalação da menopausa já ocorrem
reflexos da falência gonadal, que se manifestam principalmente
por queda não-acentuada dos níveis de estrogênios
e progesterona e conseqüente elevação dos níveis do hormônio
folículo-estimulante (FSH). À medida que se aproxima a idade
da menopausa, os níveis de estradiol e de progesterona
sofrem diminuição mais marcante, mesmo que ainda haja ciclos
ovulatórios. Após a instalação da menopausa, os níveis de
estradiol permanecem baixos, mas nos primeiros anos pode
haver algumas elevações transitórias esporádicas, reflexos de
atividade de folículos residuais. Estes valores declinam ainda
mais nos anos seguintes à menopausa. De qualquer modo, a
produção de estradiol pelos ovários de mulheres na pós-menopausa
é mínima, e a remoção ovariana nesta época não produz
modificações significativas nos estrogênios circulantes.
Assim como o estradiol, os níveis de estrona também diminuem
próximo ao período da menopausa. O padrão desta queda
é similar ao do estradiol, mas a proporção de estrona em
relação ao estradiol aumenta, ao contrário da mulher na fase
reprodutiva. Sua origem passa a ser principalmente a aroma18
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
tização periférica da androstediona de origem supra-renal, a
par de pequena produção de androgênios pelo ovário (Tabelas
1 e 2).
Tabela 1- Níveis dos hormônios esteróides circulantes em mulheres na fase reprodutivae após a menopausa.
Estradiol (pg/ml)
Estrona (pg/ml)
Progesterona (ng/ml)
Androstenediona (ng/ml)
Testosterona (ng/ml)
E2/E1
Pré-Menopausa
300-500
150-300
10-20
1-2
0,3-0,8
>1
Pós-Menopausa
5-25
20-60
0,5
0,3-1,0
0,1-0,5
<1
A produção ovariana de androgênios diminui após a
menopausa. Os níveis circulantes de androgênios também
diminuem, mas há inversão do seu metabolismo, com maior
produção de testosterona a partir da androstenediona periférica.
Assim, em muitas mulheres na pós-menopausa, a secreção
ovariana de testosterona é mantida em níveis próximos
Tabela 2 - Produção dos hormônios esteróides (% de cada fonte) em mulheres na fasereprodutiva e após a menopausa.
Pré-
Menopausa
Pós-
Menopausa
Estradiol (E2)
Ovário 90
E2 ←E1 5E2 ←E1 90E2
←T 5E1←A 5
Estrona (E1)
E2 →E1 90A →E1 10 A →E1 ↑
E2 →E1 ↓
T →E1 ↓
Androstenediona (A)
Ovário 50
Supra-renal 50
Ovário 30
Supra-renal 70
Testosterona (T)
Periférica 50
Ovário 25,
Supra-renal 25
Ovário 50
Supra-renal 50
E1 = Estrona; E2 = Estradiol
E1 = Estrona; E2 = Estradiol → Conversão; ↑ aumento; ↓ diminuição
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
aos da fase reprodutiva, mas a secreção de androstenediona
cai, o que acaba refletindo em diminuição da testosterona e
androstenediona circulantes (Tabelas 1 e 2). Como há poucos
folículos nos ovários, são as células estromais as principais
produtoras de esteróides após a menopausa. Tecido estromal
obtido de ovários de mulheres até 30 anos após a menopausa
é capaz de secretar androstenediona e estradiol in vitro.Em relação aos esteróides produzidos pelas supra-renais,
poucas modificações ocorrem em decorrência da instalação da
menopausa. Enquanto as supra-renais de mulheres jovens
secretam somente pequenas quantidades de estrogênios, elas
secretam quantidade significativa de precursores androgênicos,
como o sulfato de deidroepiandrosterona (SDHEA) e a DHEA,
androstenediona e testosterona. O SDHEA é o androgênio mais
específico da produção supra-renal, e seus níveis circulantes
não variam significativamente com a menopausa.
O metabolismo dos esteróides não sofre grandes modificações
após a menopausa. A depuração metabólica de testosterona
e estradiol não se altera, mas há mudança de rota
metabólica androgênica, com maior aromatização periférica
no tecido adiposo, músculo e pele. Tal aromatização a partir
de androstenediona e testosterona responde pela principal
produção estrogênica da mulher pós-menopausa, já que os
ovários diminuem sensivelmente a produção de estrogênios.
Como o tecido adiposo é importante sítio de aromatização, o
aumento dos estrogênios circulantes observado em mulheres
obesas pós-menopáusicas é provavelmente reflexo do aumento
da aromatização.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Gonadotrofinas
Grandes alterações ocorrem no eixo hipotálamo-hipófise
durante a fase climatérica. A mais dramática delas diz respeito
aos níveis de FSH. As elevações dos níveis de FSH podem já
estar presentes mesmo em mulheres eumenorréicas na prémenopausa,
o que ilustra bem o caráter gradual da instalação
da senescência ovariana. O prognóstico de resposta à indução
de ovulação em mulheres após os 40 anos de idade que desejam
ter filhos é fortemente desfavorável quando os níveis de
FSH estão acima de 15 ou 20 mUI/ml, no 2º dia.
Os níveis de hormônio lutenizante (LH) não são tão sensíveis
às variações dos esteróides gonadais quanto os de FSH, e
seus valores podem permanecer na faixa de normalidade até
bem próximo à instalação da menopausa, mesmo que já haja
elevações dos níveis de FSH. Os fatores responsáveis por esta
discrepância entre os níveis de FSH e LH não são bem entendidos,
mas é possível que a inibina ovariana tenha papel importante.
Esta glicoproteína tem papel inibitório preferencial pelo
FSH. Há evidências da diminuição de sua produção pelo ovário
com o avançar da idade, e seus níveis parecem estar mais
intimamente relacionados com a população folicular.
Assim, a diminuição da atividade folicular ovariana parece
ser o elemento chave nas alterações endócrinas que ocorrem
durante o climatério. A diminuição de estradiol acarreta
remoção do retrocontrole negativo dos estrogênios sobre o
sistema hipotálamo-hipofisário. Isto acarreta elevação das gonadotrofinas,
e como dito, o aumento de FSH é mais precoce
e maior do que o de LH, daí a relação FSH:LH ser maior que
1 nesta fase. Estes níveis elevados das gonadotrofinas são con21
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
seqüentes à maior produção hipofisária e não devidos a modificações
do seu metabolismo. Apesar de elevados, esses níveis
ainda obedecem a um padrão pulsátil de secreção, com
aumento da amplitude mas não da freqüência do pulso. A
elevação da amplitude pulsátil provavelmente se deve à diminuição
da inibição tônica das gonadotrofinas pelos opióides,
conforme será discutido adiante.
Opióides
Os peptídeos opióides parecem estar envolvidos na modulação
de grande variedade de funções psicológicas, neurológicas
e comportamentais. Também têm sido associados a distúrbios
psíquicos, como psicoses, depressão e estresse. Estão altamente
concentrados nos sistemas límbico e extrapiramidal,
áreas que parecem afetar os estados emocional e de humor, o
que justifica a sua relação com alterações psíquicas.
A retirada dos opiáceos exógenos em humanos cronicamente
habituados a estes produtos provoca sintomas como rubor
quente e frio, perspiração, pulso aumentado, insônia, ansiedade,
depressão, nervosismo, irritabilidade, dores musculares e
nas articulações, queixas que são notavelmente similares àquelas
exprimidas por mulheres climatéricas. Assim, é possível que a
perda rápida da atividade opióide hipotalâmica, que ocorre com
o déficit agudo de estrogênios, possa mediar muitos dos sintomas
psico-emocionais do climatério.
De fato, inúmeros estudos demonstram que o estado
hipoestrogênico da mulher da pós-menopausa está associado a
baixo tônus opioidérgico. De acordo com dados de literatura,
é notória a influência dos esteróides sexuais sobre a atividade
opióide, sendo esta atividade baixa na pós-menopausa, mas re22
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
cuperável após a terapêutica estrogênica e mesmo ampliada com
a adição de progestagênios sintéticos. É possível que este seja
um dos mecanismos de ação destes esteróides no alívio dos sintomas
climatéricos.
Neurotransmissores
Cada vez mais associam-se os efeitos do bioenvelhecimento
e conseqüente deficência estrogênica das taxas de tirosina
hidroxilase, monoaminooxidase (MAO) e catecol-0-metiltransferase
(COMT) em nível neuronal. Estas enzimas são responsáveis
pela produção e catabolismo dos diversos neurotransmissores
cerebrais, principalmente noradrenalina, adrenalina
e serotonina. As taxas de MAO se elevam e os níveis plasmáticos
de triptofano diminuem com o aumento de idade, nas
síndromes depressivas, em alguns casos de amenorréias e na
pós-menopausa. Com o avançar da idade, simultaneamente ao
aumento da atividade da MAO e da COMT, diminui a captação
das catecolaminas.
A noradrenalina foi a primeira amina a ser implicada na
regulação do ciclo sono-vigília. É o neurotransmissor predominante
no núcleo cerebral superior, o qual controla o sono REM.
A serotonina predomina no núcleo talâmico mediano, que controla
o sono profundo. Quando essas aminas biogênicas diminuem,
que é o efeito final da carência estrogênica no climatério,
a paciente mais facilmente se deprime e dorme menos.
Por outro lado, os estrogênios inibem a MAO e também estimulam
a 5 hidroxitriptofano descarboxilase e dopadescarboxilase,
o que acarreta, como efeito final, aumento da relação
noradrenalina /dopamina no cérebro. Os estrogênios agem por
meio de sua conversão em catecol-estrogênios (hidroxilação do
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
carbono-2 do núcleo aromático), e são responsáveis por regular,
em nível de hipotálamo-hipofisário, os efeitos estrogênicos
sendo que por esse meio controlam o aumento de gonadotrofinas
via sistema nervoso central (SNC). A presença de estrogênios
aumenta os níveis de transmissores noradrenérgicos no SNC,
os quais regulam o sono e o humor, bem como, direta ou indiretamente,
melhoram as alterações vasomotoras.
REPERCUSSÕES CLÍNICAS
A maioria dos sinais e sintomas típicos do climatério resulta
da diminuição dos níveis de estrogênios circulantes. São
mais freqüentemente citados a instabilidade vasomotora, distúrbios
menstruais (sangramento menstrual irregular), sintomas
psicológicos e a atrofia gênito-urinária, com diminuição
da umidade vaginal e do tamanho do útero e mamas. Maior
ênfase será dada aos sintomas gênito-urinários e psicológicos
em capítulos específicos. O hipoestrogenismo persistente vai
levar a repercussões a mais longo prazo, tais como a osteoporose
e alterações cardiocirculatórias.
Sangramento Genital Irregular
O início da falência folicular se dá de maneira progressiva
e insidiosa, e os níveis de estrogênio durante esta época podem
flutuar marcadamente. Como conseqüência, os ciclos
menstruais na perimenopausa variam também acentuadamente,
pois pode haver ovulação mas com corpo lúteo produzindo
quantidades menores de progesterona, ou mesmo os ciclos podem
se tornar anovulatórios, e os sangramentos endometriais
podem ocorrer por mecanismos de deprivação estrogênica, e
não-deprivação progesterônica. Assim, pode-se estabelecer um
24
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
mecanismo no qual ocorre estímulo endometrial estrogênico
sem oposição progesterônica, e o endométrio tornar-se hiperplásico.
Sangramentos menstruais abundantes acometem cerca
de 20% das mulheres, principalmente na pré-menopausa.
Deve-se lembrar, entretanto, que a maioria dos casos de
sangramentos uterinos anormais nesta época são conseqüentes
aos distúrbios hormonais e não a uma verdadeira hiperplasia
endometrial, embora uma avaliação endometrial se faz necessária
para afastar tal possibilidade. Além de excluir doenças endometriais
associadas ao sangramento irregular, o clínico não
deve esquecer as doenças miometriais, principalmente os
leiomiomas uterinos, cuja prevalência maior ocorre justamente
na faixa etária relacionada à perimenopausa.
Fogachos ou Ondas de Calor
As ondas de calor ou fogachos são os mais freqüentes distúrbios
e sintomas do climatério. Entre 65% e 75% das mulheres
apresentam estes sintomas, sendo que até 80% vão permanecer
com estas queixas por mais de 1 ano. Essa instabilidade
vasomotora é caracterizada pela elevação da temperatura da
pele, vasodilatação periférica, aumento transitório dos
batimentos cardíacos e mudanças na impedância da pele.
As ondas de calor parecem ser produzidas por variação
no sistema termorregulatório hipotalâmico, que leva a instabilidade
vasomotora periférica característica (dilatação capilar,
perspiração) e também a alterações comportamentais concomitantes
à dissipação do calor, apesar da temperatura corporal
manter-se estável. Em mulheres pós-menopáusicas muitos sistemas
neurotransmissores envolvidos na termorregulação parecem
ser modificados pela deficiência de estrogênio. Na reali25
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
dade, neurônios hipotalâmicos produtores de GnRH e o núcleo
hipotalâmico pré-óptico anterior, que regula a temperatura
corporal, estão numa relação anatômica íntima. Assim, sinais
neurotransmissores associados ao aumento de GnRH podem
modificar os neurônios pré-reguladores da temperatura
corporal. A associação entre instabilidade vasomotora e
disfunção hipotalâmica sugere alterações no metabolismo das
catecolaminas, certamente ligadas à diminuição da produção
estrogênica.
Também a atividade reduzida do sistema opióide endógeno
parece exercer um papel-chave no distúrbio do mecanismo
que regula a homeostase termorregulatória, seja envolvendo
a secreção de LH, seja pela modulação dos receptores
estrogênicos em nível central. Entretanto, o papel dos opióides
na fisiopatologia dos fogachos é complexo; há trabalhos que
inclusive questionam a sua participação na sua gênese. Desta
forma, embora haja dados controversos, é possível que a β-endorfina esteja, de alguma maneira, relacionada à patogênese
dos fogachos. Investigações recentes têm procurado associar
estes dados à utilização terapêutica de agentes que atuam no
sistema opioidérgico como forma de aliviar estes sintomas, tão
freqüentes nesta fase da vida da mulher. Como o sintoma
vasomotor tem sido atribuído à síndrome de retirada do opióideendógeno, aventou-se hipótese de que a atividade aumentadado sistema opióide endógeno representa um mecanismo comum
através do qual muitas substâncias neuroativas possam
melhorar os sintomas vasomotores, tais como agentes
antidopaminérgicos (veraliprida), estrogênios, progestagênios
e clonidina.
26
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Fogachos freqüentes têm forte influência sobre a qualidade
de vida da mulher, desde que estão normalmente associados
a queixas psicosomáticas, tais como tensão, irritabilidade,
cefaléia, dores musculares e ósseas, e depressão. Tais sintomas
podem mimetizar um quadro de depressão patológica. As queixas
vasomotoras que ocorrem em mulheres que ainda menstruam
acompanham-se por maior desconforto e piora do bem estar
do que as que ocorrem em mulheres amenorréicas.
Secura Vaginal
As queixas de secura vaginal aumentam cerca de 15%
em mulheres menstruando regularmente aos 39 anos, para
40 a 45% em mulheres após a menopausa. Embora seja atribuída
normalmente aos baixos níveis de estrogênios, 55%
das mulheres na pós-menopausa não relatam este problema.
Mulheres que tiveram histerectomia, com um ou ambos
os ovários presentes, relatam mais secura vaginal que
aquelas de mesma idade mas que ainda têm útero. Tal fato
não tem explicação clara.
Abordagem Clínica na Perimenopausa
A coisa mais importante que o clínico pode oferecer à
mulher na perimenopausa é a informação que ela deseja para
fazer opções terapêuticas. Esse processo educacional inicial ajudará
a construir um relacionamento sólido com as pacientes,
ao qual elas desejarão dar continuidade à medida que avançam
em idade. Esta oportunidade ímpar para o ginecologista deve
ser aproveitada ao máximo, por meio de informações educacionais
sobre hábitos de vida e cuidados preventivos que possibilitam
manter boa saúde.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Além disso, deve-se proporcionar tempo e local apropriados
para discussões sensíveis sem interrupções, usando materiais
educacionais, especialmente folhetos, mas também explicálos
com suas próprias palavras. Envolver os membros da família
durante as visitas de aconselhamento e educacionais é aconselhável.
As pacientes necessitam de ajuda para lidar com as adversidades
e tribulações da vida.
A intervenção preventiva durante os anos da perimenopausa
tem três objetivos principais. O objetivo geral é prolongar
o período de máxima energia física e ótima atividade social
e mental. Um objetivo específico é detectar, tão cedo quanto
possível toda e qualquer doença maior, como hipertensão,
cardiopatia, diabete melito e câncer, bem como comprometimentos
da visão, da audição e da dentição. Finalmente, o clínico
deve ajudar a mulher na perimenopausa a atravessar suavemente
o período da pós-menopausa. Os cuidados e condutas
preventivos com a saúde dos últimos anos reprodutivos dão ao
clínico excelente oportunidade de atuar como o provedor de
cuidados primários da mulher.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
3. SINAIS E SINTOMAS DO
HIPOESTROGENISMO
Para maior compreensão, utiliza-se uma divisão clássica
do climatério em pré e pós-menopausa, acrescida de uma fase
intermediária denominada perimenopausa ou transição
menopausal.
Sabe-se que todo processo hipoestrogênico está vinculado
a uma deficiência da homeostase endócrina, constatada pela
soma de ciclos bifásicos resultantes de interrelacionamento entre
os sistemas hipotálamo e adeno-hipofisário e estruturas ovarianas.
A quebra dessa seqüência, até então vivida em regime
de retroalimentação, se faz vagarosamente por uma série de
acontecimentos observados nas falhas de recepção entre ovários
e hipófise anterior e que desencadeiam crescente produção
de FSH, com lenta redução da função ovariana, identificada
pela queda persistente de 17 beta-estradiol. É nessa oportunidade
que o estudo sobre a inibina se faz presente para maior
compreensão do fenômeno, sabendo-se que a baixa produção
do estradiol é acompanhada também pela dessa glicoproteína,
oriunda das estruturas celulares da granulosa, gerada por sua
vez pelo estímulo hipofisário, especificamente do FSH. Assim,
na pré-menopausa, a inibina tende a cair concomitantemente
com o estradiol. A ênfase desse acontecimento bioquímico está
na descoberta de um fator estimulador de FSH, oriundo da
própria inibina, denominado ativina, compreendendo-se o porquê
da maior produção da gonadotrofina folículo-estimulante.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Logo nos primeiros anos do climatério são detectados leves
sintomas vasomotores, quase sempre precedidos por instáveis
ciclos menstruais, os quais, em primeira instância, levam a
mulher a sentir-se envelhecida. De nossas observações, o impacto
dessa assertiva é contundente, atingindo quase 90% das
pacientes, principalmente entre mulheres intelectualmente diferenciadas.
As menstruações deixam de ser cíclicas; os períodos passam
a ser irregulares. No decorrer desses anos, desencadeiamse
espaços amenorréicos, certamente monofásicos, estrogênicos
por excelência, mas por vezes intercalados com ciclos ovulatórios,
que podem redundar ainda em episódios gravídicos,
ensejando por isso a necessidade de proteção anticoncepcional
nessa fase inical do climatério.
No período perimenopáusico delimita-se maior alteração
nos mecanismos endócrinos desse sistema. Pelo fato de predominarem
ciclos monofásicos, forma-se, com mais freqüência,
endométrio proliferativo, o que torna imprescindível vigiá-lo
no sentido preventivo.
SINTOMAS VASOMOTORES
Quase sempre presentes são os sintomas vasomotores, simbolizados
por fogachos, sudorese e insônia, constatados em cerca
de 75% das mulheres perimenopáusicas. Costuma-se ouví-las
cobertas de lamentações, tais como inapetência sexual, secura
vulvovaginal e fortes ondas de calor, acompanhadas por
sudorese facial ou torácica, mais no período noturno, acrescida
de crises de insônia. É certamente uma transformação
neuropsíquica, cujas mudanças variam de acordo com a personalidade
da mulher.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Crises nervosas com irritabilidade e ansiedade provocam
períodos de indiferença sexual, notadamente quando seus parceiros
passam a considerar tais queixas como sinônimo de envelhecimento.
A fisiopatologia que forja tais distúrbios, está ligada
aos pulsos de LH ou ao aumento da freqüência de GnRH,
podendo ser interpretada, como vimos, em decorrência de alterações
funcionais do centro termorregulador do hipotálamo,
por dilatação periférica, repercutindo em aumento de temperatura
(calor e suores noturnos). Pelo visto, esses sintomas são os
mais freqüentes no climatério, notadamente entre as mulheres
mais caseiras e ansiosas. Delas, cerca de 80% sofrem ondas de
calor, podendo esse sintoma ser relatado diariamente e por seguidos
anos, com episódios que duram de segundos a 2 ou 3
minutos.
REPERCUSSÕES SEXUAIS
É no apogeu da perimenopusa que se compreende o relato
de diversas modificações psico-afetivas entre as mulheres,
dando ensejo ao reconhecimento da fase terminal da reprodução.
A somação das queixas faz surgir maior índice de disfunção
sexual, talvez pela diminuição da própria lubrificação vulvovaginal,
somada ainda à atrofia da mucosa endocervical, criando
um certo grau de dispareunia, tanto essencial como emocional.
Nesses casos, o transtorno é decorrente da formação do
tecido colágeno e da elastina, afetando as glicoproteínas responsáveis
pela lubrificação, hidratação e sustentação da pele
vulvar.
Os sinais do hipoestrogenismo na região vulvar estão refletidos
sobre as glândulas sebáceas e sudoríparas, produtoras
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de serosidade geralmente encontrada na base dos folículos
pilosos. Dos vários tipos de glândulas, as sudoríparas são as que
mais se concentram sobre a vulva.
Os estrogênios agem sobre as células basais da epiderme,
onde existe maior quantidade de receptores, na produção de
gordura, sendo a derma o local preferencial para observar-se
tal atividade, que consiste em grande parte na síntese do ácido
hialurônico e de aumento de água. Dessa forma, condiciona-se
que o hipoestrogenismo é causa importante da perda de proteção
do tegumento, levando inclusive à diminuição da proteção
da região, com predomínio da flora perianal, antes neutralizada
pela atividade estrogênica. Na vigência do hipoestrogenismo
passa a dominar sobre a vulva quase toda a flora perianal,
notadamente bactérias gram-negativas, jogando por terra a
proteção até então existente (Figura 1).
Figura 1 - Vulva impregnada pela flora perianal
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Nas mulheres obesas essas mudanças não são observadas
devido à formação de estrona, como produto metabólico da
androstenediona, fincada no tecido adiposo. A mulher magra
tem sua pele caminhando para a secura e para o enrugamento,
com bem mais precocidade do que nas obesas. Na própria
região costuma-se também detectar pequenas nodulações arredondadas,
na maioria das vezes formações císticas.
O grau de atrofia vulvar ainda é conseqüência da redução
funcional de suas glândulas, comumente agredidas por
anaeróbios da flora perianal. Em nossas observações, essa repercussão
é clara e insofismável, compreendida inclusive pela
própria mulher que chega ao ambulatório reclamando da “vagina
seca”, na verdade da vulva sem lubrificação.
O percentual de reclamação na perimenopausa tanto
antes como depois do último evento menstrual, chega a ultrapassar
85% dos casos. Aparecem os sintomas ligados à dispareunia
e nunca de vaginismo, estes mais reclamados pelas recém-
casadas, conseqüência de frustações e de agressões físicas,
ou de imagens deturpadas ligadas às relações sexuais.
SINTOMAS PERIMENOPÁUSICOS
Em torno dos 45 anos, a mulher tende a mentalizar com
mais ênfase que a data da menopausa pode estar se aproximando,
constatada pelos seus ciclos menstruais, antes regulares e
nessa época objetivados por intervalos menstruais irregulares,
geralmente para mais, ou pela quantidade menor ou maior de
sangramento, denotando a sintomatologia típica de
sangramento disfuncional.
No decorrer de poucos anos a menopausa passa a ser referendada
após seguidos meses de amenorréia, acidente bioló33
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
gico determinado por condições genéticas mas não ligado à
raça ou estado nutricional, passado ou presente. A menopausa
é sobretudo um diagnóstico retrospectivo, estabelecido após
doze meses do último sangramento. Daí em diante, qualquer
perda sangüínea, deverá ser encarada como sinal de anormalidade.
Acredita-se que cerca de 30% das mulheres americanas
se encontram na pós-menopausa, com tendência a aumento
desse percentual pelas condições sociais, nutricionais, físicas e
econômicas apresentadas pela população, admitindo-se que,
em 2030, cerca de 70% das mulheres estejam vivendo na
pós-menopausa em todos os países desenvolvidos, capitaneados
pelo Japão.
Entre os sintomas que precedem a menopausa, a paciente
acusa também episódios taquicárdicos que parecem depender
de uma instável quantidade estrogênica ou da “imagem”
que a mulher possa possuir sobre aqueles momentos. Admitese,
por isso, que seja sintomatologia de natureza neuropsíquica,
a variar de acordo com a personalidade de cada um, sem esquecer
a participação endócrina ligada aos fatores envolvidos
na pulsabilidade do LH. Há de ser ainda considerado que o
início de todo processo sintomatológico esteja ligado à quebra
da homeostase até então vigente. É sintoma típico da
perimenopausa e conseqüentemente observado tanto na pré
como na pós-menopausa, durando nesta fase, poucos ou muitos
anos. A freqüência de fogacho e do sintoma taquicárdico é
variável, sobretudo no período noturno; a mulher estando coberta,
se descobre pelo súbito calor; ao suar, sente frio e logo se
cobre, tal como foi descrito.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Toda sintomatologia que caracteriza esses distúrbios há
de ser considerada conseqüência do hipoestrogenismo. Mulheres
que vivem os períodos climatéricos e que são hipertensas,
diabéticas e fumantes, costumam conviver com alterações
lipídicas e dessas, especificamente, a metabolização do colesterol
plasmático. Em geral, paciente ostentando alta densidade
lipoprotéica (HDL) e queda concomitante de lipoproteína de
baixa densidade (LDL), foge do padrão clássico das doenças
cardiovasculares.
É importante salientar esse aspecto para que seja
enfatizado a necessidade de incluir investigação preventiva, tendo
a mulher antecedentes familiares, sabendo que normalmente
o padrão lipídico feminino na pós-menopausa se assemelha,
em muito, ao masculino. Conseqüentemente, que sejam
investigadas essas metabolizações em nível preventivo, entre mulheres
tabagistas, sabendo-se que as fumantes no período
perimenopáusico poderão ser acometidas de infarto do
miocárdio.
FALÊNCIA PRECOCE DA FUNÇÃO OVARIANA
Casos de amenorréia, com sintomatologia típica do
climatério aos 35 anos (para alguns) ou 40 anos (para outros).
Eles se apresentam de forma gradativa ao longo de 2 a 3 anos,
ou após um período de sinais e sintomas que logo levantam a
certeza de uma gritante deficiência estrogênica. Daí em diante,
os ciclos menstruais vão escasseando nos seus intervalos e na
quantidade menstrual, até que a somatória de curtos quadros
amenorréicos terminem por serem identificados com níveis elevados
de FSH acompanhados de hipoestrogenismo e
amenorréia definitiva.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
O impacto emocional com que a paciente passa a conviver,
necessita ser trabalhado com psicoterapia constante, seguida
de orientação imediata com reposição estrogênica associada
aos progestagênios. Com isso, a sintomatologia é bloqueada, a
menstruação restaurada e a paciente orientada para uma vida
ativa, tanto social como sexual.
Na verdade, vários são as motivações para o estabelecimento
dessa grave disfunção endócrina. São elas: causas genéticas,
imunológicas, defeitos nos receptores ligados às
gonadotropinas, motivos ambientais por infecções virais e a
própria falência funcional das gonadas, ainda por ser
explicada.
SINTOMATOLOGIA UROGENITAL
Esse quadro está ligado à incontinência urinária e à dificuldade
em esvaziar a bexiga. A incontinência tem forte relação
com repercussões emocionais, induzindo a mulher a procurar
um especialista, já que o desconforto apresentado pelo
odor da urina é por demais deprimente.
Parece que os tecidos relacionados com a mucosa uretral e
ao trígono vesical, assim como o tecido conjuntivo que contorna
toda essa estrutura, por terem receptores dos estrogênios, perdem
a tonicidade e conseqüentemente tornam-se hipotróficos,
sem qualquer atividade elástica ou de contratilidade. Daí a orientação
de exercitar toda a estrutura muscular, visando a recuperação
da pressão vesical e de todo o sistema urinário.
NOVAS ÁREAS
Na dependência do hipoestrogenismo, estão sendo conhecidas
outras doenças, como diabete, doença de Parkinson e
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
câncer de cólon, este que pode ser suspeitado durante pesquisa
de sangue oculto nas fezes.
Relata-se também que o hipoestrogenismo pode desencadear
riscos para a doença inflamatória periodontal e que a
terapêutica estrogênica pode mostrar efeitos protetores sobre
esse quadro inflamatório, prevenindo a perda dentária e conseqüentemente
essa osteoporose localizada.
Pode-se, por fim, esquematizar os clássicos eventos vividos
pela mulher em cada fase do climatério. Na fase precoce,aparecem os distúrbios menstruais e vasomotores, estes caracterizados
pela insônia, fogachos e sudorese e os de natureza psicológica,
tais como a depressão e o choro fácil. A fase intermediária
imbricada entre a pré e a pós-menopausa, conhecida
como perimenopausa, na qual se estudam deficiências gritantes,
como os distúrbios urogenitais, e as disfunções sexuais. Finalmente,
a sintomatologia da fase tardia, como doença cardiovascular,com seu crescente índice de mortalidade, a
desmineralização óssea desencadeando a “osteoporose” e a “demência
senil”, síndrome ligada a forte alteração da personalidade
feminina, hoje considerada, possivelmente, dependente
de quadro hipoestrogênico.
Os sintomas da desmineralização progressiva dos ossos,
resulta a médio prazo, em risco de fraturas, notadamente da
coluna vertebral e da articulação coxo-femural, alcançando
percentual acima de 30% entre as mulheres magras. Os sinais
e sintomas dessa situação se conjugam intrinsicamente com a
diminuição da estatura, deformações na coluna tipo sifose e
escoliose, que levam a constantes episódios de algia e de fragilidade
do tecido ósseo esponjoso, conseqüências que atingem
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
cerca de 25 milhões de mulheres americanas. Esses desgastes
que têm como substrato a falência estrogênica, promovem entre
outras doenças, fraturas, artralgias, perda de elasticidade e
perene catabolismo celular pela maior perda de osteoclastos.
Do exposto ficam explícitas as seguintes mensagens sobre
a sintomatologia climatérica, sobressaindo a pele e seus anexos,
que se tornam respectivamente seca e quebradiços. As rugas
faciais são conseqüências da perda de água e colágenos.
Sobre o sistema urogenital são costumeiros os sintomas
ligados à incontinência urinária, crises de cistites e de urgência
miccional. Os distúrbios metabólicos aparecem por vezes de
forma gritante, com redução da insulina e pelas alterações
lipídicas com baixa produção de HDL e aumento dos TG e
LDL. O hipoandrogenismo é bem sintomático, com baixa da
libido e com energia corporal reduzida, associada a episódios
de depressão, cefaléia e leves tonturas.
Da maior significação são os relatos de palpitações, crises
anginosas e crescente incidência de infarto do miocárdio, comparado
com os da fase reprodutiva.
Na vagina, atrofia epitelial e redução das secreções.
Retração do introito vaginal e aumento da dispareunia com
eventuais sangramentos pós-coitais.
Finalmente, a estrutura uterina, com diminuição de seu
volume, acompanhado de endométrio inativo, mas ainda
responsivo, favorecendo inclusive a criação de processos
neoplásicos.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
4. AVALIAÇÃO CLÍNICO–
GINECOLÓGICA NO CLIMATÉRIO
Deve-se basear no quadro clínico. Amenorréia com duração
de pelo menos um ano, após os 40 anos, principalmente
se acompanhada de sintomas vasomotores é bastante sugestivo.
Pode-se confirmar laboratorialmente, pelos elevados valores de
FSH (acima de 40 mUI/ml).
Sintomas vasomotores e ou irritabilidade nervosa, sem
causa aparente, em pacientes na pré-menopausa, as quais
menstruam ainda razoavelmente bem, pode indicar a necessidade
de terapêutica hormonal. Nestes casos, pode-se dosar
o FSH nos primeiros dias do ciclo e sete a 10 dias depois;
valores elevados indicam hipoestrogenismo relativo (insuficiência
ovariana). Outro método propedêutico consiste na administração
de citrato de clomifeno (50 mg, do 5o ao 9o dia);dosa-se FSH na véspera e entre os dias 9 e 11. Valores acima de
26 mUI/ml sugerem haver menor reserva folicular.
Na vigência de amenorréia mais prolongada, além do
FSH e LH estarem elevados, o estradiol encontra-se baixo.
Porém, rotineiramente não se costuma dosar hormônios
em face de quadro clínico típico; quando necessário, apenas o
FSH porque o teor de estradiol flutua bastante, consoante o
grau de transformação periférica de androgênios e os níveis de
SHBG. Melhor e mais elucidativo do que a dosagem isolada
de estradiol é o teste provocativo de progestagênios ou teste de
progesterona em mulheres com amenorréia. Se negativos, indicam
que os níveis de estrogênios estão baixos, aquém dos valores
encontrados na fase proliferativa tardia.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Na dúvida diagnóstica pode-se fazer o teste
medicamentoso; pequenas doses de estrogênios (estrogênios
conjugados - 0,3 ou 0,625 mg) por 15 a 20 dias. Se houver
melhora sintomatológica, confirma-se o diagnóstico.
Em mulheres histerectomizadas, o diagnóstico pode ser
mais difícil. Lembrar que a menstruação é um marcador biológico;
na ausência de útero, esta função passa para as mamas.
Assim, pacientes sem útero que têm mastalgia cíclica não
estão com insuficiência hormonal. O guia clínico na ausência
de manifestações mamárias é o sintoma vasomotor. Se ausente,
deve-se recorrer à dosagem de FSH (três dosagens com
intervalos de uma semana). As dosagens múltiplas visam excluir
a possibilidade da avaliação única coincidir com picos
isolados de estradiol.
Conclui-se, pois, que o diagnóstico é sobretudo clínico,
havendo poucas vezes a necessidade de avaliação hormonal.
Contudo, nas menopausas ditas precoces é necessário maior
investigação para saber se a amenorréia decorre mesmo de falência
ovariana ou se é devida a outras causas, como hiperprolactinemia,
hipotiroidismo, tumores hipotalâmicos, doenças
auto-imunes, entre outras.
Antes de se fazer a terapia hormonal exigem-se exames
apurados físico e ginecológico, bem como exames subsidiários:
colposcopia; colpocitologia oncológica; mamografia;
ultra-sonografia pélvica e teste provocativo com
progestagênios; hemograma, glicemia, fosfatase alcalina,
colesterol total e frações (HDL e LDL), triglicérides, cálcio
e fósforo plasmáticos, calciúria de 24 horas e densitometria
óssea. Se impossível, fazer pelo menos a citologia, o teste
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
provocativo de progestagênios e a mamografia. Não se deve,
de modo algum, começar a terapia hormonal sem o teste de
progestagênio e a mamografia.
O acompanhamento da mulher no climatério sob hormonioterapia
deve ser rigoroso. Impõem-se exames clínico e ginecológico
periódicos, avaliação do peso, da pressão arterial, das
mamas e do estado metabólico (lípides, glicemia, etc.) e dos
ossos (densitometria óssea). Não é necessário dosar o estradiol
plasmático para se assegurar que a paciente esteja recebendo a
dose correta; o quadro clínico retrata, em geral, a eficiência do
tratamento. Por ocasião do exame ginecológico, pode-se ter boa
idéia da estrogenização pela cor mais rosada da vagina e do
colo, pela presença de muco cervical com alguma filância e
cristalização, e pelo esfregaço celular, o qual era outrora atrófico,
(células basais) e agora apresenta-se com poucas células basais e
parabasais e mais células do tipo intermediário ou superficial.
Para tanto, nem há necessidade de qualquer coloração (basta
acrescentar uma gota de soro fisiológico ao material obtido por
raspado da parede vaginal).
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
5. FARMACOLOGIA,
METABOLISMO E INDICAÇÕES
DOS ESTROGÊNIOS
Estrogênios são substâncias responsáveis pelos atributos femininos.O seu efeito biológico pode ser medido pela
corneificação vaginal. Estrogênio é um termo operacional; não
indica uma única substância fundamental e seus derivados porque
abrange um gênero de substâncias que apresentam em
comum ações estrogênicas, todas ou algumas.
São classificados, de acordo com a sua origem, em naturais
e sintéticos. Os estrogênios naturais podem ser isolados dos
órgãos e excreções animais. São esteróides derivados do
ciclopentanoperidrofenantreno, que apresentam 4 características
fundamentais: 18 átomos de carbono (C18), anel A aromático,grupo metila no carbono 13 (C-13) e radical oxigênio
nos C-3 e C-17, que parece essencial para a ligação com o receptor
estrogênico. Atualmente, reconhecem-se pelo menos 2
variantes do receptor estrogênico: alfa e beta.
Os estrogênios naturais são classificados em livres, conjugadose esterificados.
Os estrogênios livres são: estrona, estradiol e estriol. Oestradiol referido nessa classificação é o 17 beta-estradiol; o 17
alfa-estradiol é inativo. De acordo com o tempo de permanência
no núcleo celular, os estrogênios são classificados em fortes ou
fracos. São estrogênios fortes o estradiol e a estrona porque permanecem
no núcleo por tempo suficiente para possibilitar ação
que perdura por 24 h. O estriol é um estrogênio fraco porque
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
sua afinidade pelo receptor é menor; pode mimetizar um
estrogênio forte desde que seja administrado a cada 4 ou 6 h.
A estrona é 2 a 10 vezes menos potente e, o estriol, 10 a100 vezes menos potente do que o estradiol, dependendo do
sistema biológico utilizado.
Os estrogênios conjugados compreendem os glicuronidatose os sulfatos. Um grupo importante de estrogênios conjugados
é constituído pelos estrogênios equinos sulfoconjugados. Os principaisconstituintes dos estrogênios equinos sulfoconjugados,
ou simplesmente estrogênios conjugados, são sulfato de estrona
(55%), equilina (25,1%) e 17 alfa-diidroequinelina (16,6%).
Os estrogênios esterificados compreendem o valerato e ohexaidrobenzoato ou simplesmente benzoato de estradiol.
Os estrogênios sintéticos, de acordo com a sua estrutura,são classificados em esteroidianos e não esteroidianos.
Os estrogênios sintéticos esteroidianos ou semi-sintéticos sãorepresentados pelo etinilestradiol e pelo promestrieno. O principal
inconveniente do primeiro é a sua ação prolongada no fígado
porque o radical etinila retarda a sua metabolização; o último
é um estrogênio de ação local, sem ação sistêmica descrita.
Os estrogênios sintéticos não-esteroidianos são:dietilestilbestrol e ciclofenila. Dietilestilbestrol é utilizado em
oncologia e, o ciclofenil, estrogênio fraco, no tratamento hormonal
de mulheres pós-menopáusicas. O clomifeno, o
tamoxifeno e o raloxifeno constituem SERMs (specific estrogenreceptor modulators ou moduladores específicos do receptorestrogênico).
Uma classe importante dos estrogênios é representada
pelos xenoestrogênios, estrogênios xenobióticos ou fitoestrogênios
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
(plantas). São substâncias encontradas naturalmente em plantas
ou derivadas de produtos industriais que apresentam a capacidade
de determinar respostas estrogênicas.
Os xenoestrogênios podem ser classificados em
fitoestrogênios e contaminantes ambientais de origem industrial.
Fitoestrogênios são produzidos por plantas que fazem parteda dieta dos animais, inclusive dos humanos. Os contaminantesindustriais
são agentes lipofílicos e mantêm-se por longos períodosno ambiente. Uma diferença significativa entre os
xenoestrogênios derivados de produtos industriais e os
fitoestrogênios é que os derivados industriais em geral se acumulam
na cadeia alimentar vital e se depositam a longo prazo
no tecido adiposo, ao passo que os fitoestrogênios não se acumulam
nessa cadeia e são rapidamente excretados na urina.
Os principais fitoestrogênios são as isoflavonas, as lignanas
e os corimestranos. As isoflavonas estão presentes em
leguminosas, principalmente na soja, e os corimetranos e as
lignanas em sementes oleaginosas. Outros fitohormônios são os
flavonóides, também chamados flavonas, que constituem os pigmentos
biológicos não-nitrogenados (biocromógenos); compreendem
as antocianinas e as antoxantinas. Flavonóides existem
principalmente nos vegetais; quando encontrados nos animais
derivam das plantas ingeridas. As Antoxantinas são responsáveis
pela cor amarela das pétalas e as antocianinas pela cor vermelha
dos botões das flores e das folhas no outono. Fitoalexinas,
também consideradas como fitoestrogênios, são antibióticos produzidos
pelas plantas contra fungos e bactérias. Resveratrol,
encontrado nas uvas e no vinho tinto e responsável pelo para44
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
doxo francês, é uma das principais fitoalexinas. Há evidências
de que fitoestrogênios também estão presentes na cerveja. A
análise das folhas de 20 tipos de chás comerciais mostrou a presença
de níveis relativamente elevados das lignanas
secoisolariciresinol e matairesinol, consideradas responsáveis pelas
atividades antimutagênica, anticarcinogênica e antioxidante
da infusão das folhas.
Os contaminantes industriais são constituídos pelos
polietoxilatos alquilfenólicos, ftalatos, pesticidas clorados (o,p’-
DDT, por exemplo) e bifenólicos policlorados (PCBs). Os seres
humanos absorvem esses xenoestrogênios pela dieta ou pele.
O estradiol é o estrogênio mais potente do organismo.Mantém os caracteres sexuais secundários da mulher, prolifera
o endométrio, favorece a secreção do muco cervical, aumenta
as contrações tubárias, inibe a implantação do ovo na cavidade
uterina e provoca o crescimento do epitélio vaginal (células
queratinizadas com núcleo picnótico).
O mecanismo exato da sua ação sobre os ossos não está
ainda completamente entendido. Sabe-se que os estrogênios
aumentam a absorção do cálcio e diminuem a sua excreção. O
efeito poderia ser feito indiretamente pela modulação do
paratormônio (PTH), pelo aumento de produção de
calcitonina, pelo aumento da síntese e atividade da vitamina D
e pela ação direta nos osteoblastos onde foram demonstrados
receptores estrogênicos. Os estrogênios têm ação direta nos
osteoclastos, influíndo na produção das citocinas que atuam
como reguladores de sua diferenciação e atividade; diminuem
a produção das interleucinas IL-1 e IL-6, que estimulam os
osteoclastos, e aumentam a produção do fator de crescimento
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
transformante-β (TGF-β), potente inibidor da funçãoosteoclástica. Desta forma, os estrogênios diminuem a remodelação
óssea, preservando a massa óssea e a qualidade da
microarquitetura do tecido ósseo. O efeito estrogênico
independe da estrutura química; etinilestradiol, estrogênios conjugados
e 17 β-estradiol são igualmente eficazes; o estriol é inativo.A via de administração não é o mais importante, mas a
dose sim. A concentração mínima sérica de E2 que resulta na
inibição da reabsorção óssea em 90% das mulheres tratadas é
de 40 a 60 pg/ml de estradiol plasmático. Esse nível se consegue
com 0,625 mg/dia de estrogênios conjugados; 2 mg/dia
de valerato de estradiol, 50 μg/dia de 17β-estradiol sob formade adesivo ou 1,5 μg/dia sob forma de gel. Contudo, estudosrecentes mostram que doses mais baixas poderiam também atuar
na inibição da reabsorção óssea.
A proteção contra a aterosclerose está ligada à redução
da formação das células espumosas, diminuíndo a captura do
LDL-colesterol oxidado pelos macrófagos e também pelo aumento
da produção de apolipoproteína A (ApoA1) pelo fígado,
principal constituinte protéico do HDL-colesterol. A proteção
cardiovascular também estaria ligada ao efeito
vasodilatador, pois o estradiol aumenta a produção ou liberação
de óxido nítrico. O óxido nítrico liberado apresenta efeito
antiaterogênico, por exemplo inibição do músculo liso da
parede vascular e da adesividade endotelial. Contudo, os grandes
estudos randomizados mais recentes não mostraram proteção
cardiovascular primária, nem secundária. De igual
modo, não haveria proteção contra a doença de Alzheimer
nem de câncer de cólon com a terapia hormonal.
46
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
As ações na hemostasia são caracterizadas pela redução
do fibrinogênio plasmático, do fator VII e do inibidor do
ativador do plasminogênio, o que reduz o risco de coagulação
sangüínea. O problema do tromboembolismo na vigência do
tratamento hormonal na pós-menopausa parece representar mais
um fenômeno idiossincrásico desencadeado pelos esteróides.
O estradiol modula ainda o eletroencefalograma e melhora
o equilíbrio em mulheres na pós-menopausa.
INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS
Sintomas climatéricos, distúrbios urogenitais na pós-menopausa,
prevenção da fratura osteoporótica da pós-menopausa,
prevenção e tratamento da osteoporose, sangramento uterino
disfuncional, crescimento estatural excessivo, transtorno
disfórico pré-menstrual, tratamento adjuvante da depressão,
entre outras.
EFEITOS SECUNDÁRIOS
Edema, cloasma, porfiria, náuseas, vômitos, diarréia, dor
abdominal, cefaléia, distúrbios menstruais, mastalgia, leucorréia,
hiperplasia endometrial, câncer de mama (aumento do risco
após tratamento prolongado), litíase biliar, hipercalcemia, nervosismo,
pancreatite, tromboembolismo.
CONTRA - INDICAÇÕES
Sangramento vaginal de gênese desconhecida, cânceres
estrogênio-dependentes (mama e endométrio), endometriose,
epilepsia, lupus eritomatoso sistêmico, hipertrigliceridemia e
alterações congênitas do perfil lipídico, gravidez, aleitamento,
47
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
antecedente de icterícia gravídica, doença hepática aguda ou
moléstia hepática preexistente que demonstre agravamento na
vigência do tratamento hormonal, porfiria e tromboembolismo,
melanoma, mioma uterino, hipertensão arterial sistêmica
e diabete melito não controlados.
POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO
A maior vantagem da via parenteral é evitar a primeira
passagem hepática, diminuindo as repercussões imediatas sobre
as proteínas hepáticas (enzimas e fatores de coagulação), o
perfil lipídico, a composição da bile e sobre o próprio parênquima
hepático. Há aumento do substrato de renina
(angiotensinogênio), da globulina transportadora dos esteróides
sexuais, da globulina transportadora do cortisol e da globulina
transportadora da tireoxina. Essas alterações serão observadas a
longo prazo quando se utilizam as outras vias. O aumento do
angiotensinogênio parece determinar aumento da pressão arterial
em alguns indivíduos, de modo idiossincrásico. Evitando
a primeira passagem hepática diminui-se a inativação do
hormônio e retarda-se o efeito sobre as proteínas hepáticas,
mantendo-se o valor da relação estradiol/estrona próxima daquele
observado no menacme e, portanto, mais fisiológico. Entretanto,
a via mais usada é a oral.
Via Transdérmica – No tratamento cíclico com gel deestradiol, iniciar com 0,5 - 1 - 1,5 - 3 mg/dia, do 5º ao 25º diado mês, associando com progestagênio durante os últimos 10
dias nas mulheres com útero (regular a dosagem na evolução).
Na pós-menopausa, o tratamento pode ser continuado
48
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
e o progestagênio, nos casos de útero presente, pode ser administrado
mensalmente ou a cada 3 meses, durante 14 dias.
No tratamento com adesivos iniciar com 25 - 50 - 100 μg/dia, devendo-se combinar com progestagênio na presença do
útero. O controle clínico do tratamento é realizado a cada 2
ou 3 meses durante o início do tratamento. O controle biológico
é realizado a cada 4 ou 6 meses pela dosagem de estradiol
plasmático, glicemia, colesterol total e frações. Jamais deixar
de realizar os controles mamográfico e ultra-sonográfico de
preferência transvaginal (se útero presente) anual.
Via Subcutânea – Os implantes começam a aparecer nomercado brasileiro, sob a forma de estradiol, na dose de 25
mg, a ser aplicado a cada 4-6 meses. É uma via interessante
principalmente em pacientes histerectomizadas.
Via Muscular – Com a finalidade de estabelecer ciclos artificiaispode-se utilizar o benzoato de estradiol, na dose de 5 mg
por semana, durante 3 semanas, começando no 5º dia do ciclo,associando o progestagênio no início da 3a semana, durante 10dias. Na pós-menopausa, iniciar com 5 mg; de acordo com a
evolução administrar a droga a cada 3 ou 4 semanas, associando
com progestagênio na presença do útero. Um esquema interessante
é utilizar o benzoato de estradiol (5 mg) por via muscular,
mensalmente, durante 2 ou 3 meses, e no 3º ou 4º mêsaplicar 1 ampola da associação de estrogênio, progestagênio e
androgênio (hexaidrobenzoato de estradiol-3 mg,
hexaidrobenzoato de testosterona-100 mg e 17α-hidroxiprogesterona-75 mg) em pacientes com útero. A grande
vantagem dos injetáveis é a baixa relação custo/benefício,
algo que está de acordo com a realidade socioeconômica da
nossa nação, principalmente na classe dos aposentados.
49
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Via Nasal – estradiol, 150-300 mcg/dia.
Via Vaginal – estrogênios conjugados, 0,3-0,625-1,25 mg/diaestriol, 1-2 mg/dia
promestrieno, 10 mg/dia
Via Oral – Com a finalidade de estabelecer ciclos artificiais,existem preparados comerciais seqüenciais contendo valerato
de estradiol (1 a 2 mg/dia) associado a progestagênio; administrar
durante 21 dias seguidos e reiniciar após 1 semana de intervalo.
Na pós-menopausa, esses preparados devem ser evitados
porque somente contém 10 dias de progestagênio, o que
pode ser insuficiente para proteger o endométrio.
Os estrogênios isolados mais utilizados por via oral são os
estrogênios conjugados. Na pós-menopausa inicial, começa-se
o tratamento com 0,625 mg diariamente, associando-se com
progestagênio durante 14 dias a cada 1 ou 3 meses quando o
útero é presente. É possível associar com progestagênio de modo
contínuo quando se quer evitar o fluxo menstrual. Na evolução
pode ser necessário acertar a dose, pois, algumas pacientes necessitam
de apenas 0,3 mg diários. Para o estabelecimento de
ciclos artificiais, a dose diária é de 0,625 a 1,25 mg durante 21
dias, associado a progestagênio nos últimos 10 dias.
Tratamento Local – Nos distúrbios do trofismo e da dinâmicaurogenital pode-se usar creme vaginal com estrogênios conjugados
(0,625 mg/g) ou creme vaginal com estriol (1 mg/g), diariamente,
durante 2 semanas, e depois 2-3 vezes por semana,
seguindo a mesma orientação da via oral, pois a absorção vaginal
praticamente equivale à da via oral. Promestrieno é utilizado sob
a forma de creme contendo 10 mg/g; pode ser usado na pele
para o tratamento da acne ou por via vaginal, para o tratamento
dos fenômenos atróficos, pelo tempo julgado necessário.
50
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Casos Particulares – Estriol por via oral pode ser utilizadopara distúrbios do trofismo e da dinâmica urogenital na dose
de 1 ou 2 mg/dia. Aparentemente não há necessidade de adicionar
progestagênio, pois, o estriol nessa dosagem não estimula
o endométrio. Os estrogênios conjugados podem ser usados
para a menostasia do sangramento uterino disfuncional. OEtinilestradiol é utilizado praticamente na anticoncepção, nãoservindo para o tratamento dos distúrbios do climatério e da
pós-menopausa, porque altera substancialmente as proteínas
hepáticas, aumentando o risco de tromboembolismo e de hipertensão
arterial.
51
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
6. PROGESTAGÊNIOS
Os progestagênios são definidos como compostos que,
agindo no endométrio, induzem alterações características da
gestação e são capazes de manter a gravidez em animais
ooforectomizados. Seu efeito é dose e tempo dependente. Agem
em receptores específicos, como também nos receptores de
estrogênio, androgênios, glicocorticóides e mineralocorticóides,
produzindo, desta forma, efeitos variados.
CLASSIFICAÇÃO
Os progestagênios podem ser classificados em naturais e
sintéticos. Realmente, existe um único composto natural, a própria
progesterona.
Progestagênio Natural - Progesterona
O produto natural é a progesterona, esteróide derivado
do colesterol e secretado, em sua maior parte, por células tecaluteínicas
do corpo lúteo, pelo trofoblasto e pelo córtex da supra-
renal.
É insolúvel em água (no início não existia a micronização),
não podendo ser administrada por via oral. A via de administração
é a intramuscular, em veículo oleoso.
É secretada pelo corpo lúteo, e age em receptores de progesterona
que se localizam no núcleo das células-alvo.
Na corrente sangüínea, liga-se fracamente às proteínas,
sendo rapidamente metabolizada. Cerca de 20% dela encontra-
se fortemente ligada à proteína de ligação dos corticosteróides
e, o restante, à albumina.
52
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Cerca de 50% da progesterona é metabolizada no fígado
(pelas enzimas 5α e 5β−redutase), pelo que perde sua duplaligação entre os carbonos 4 e 5 e os grupamentos cetonas
situados nos carbonos 3 e 20. Este processo resulta em dois
isômeros da pregnanediona, quatro isômeros da pregnenolona
e oito isômeros do pregnanediol. Nos tecidos extra-hepáticos a
metabolização se dá quase que exclusivamente pela 5α−redutase; apenas 10% é metabolizada pela 20α−redutase. Alémdisto, a progesterona é submetida a hidroxilação no carbono
21, formando a desoxicosticosterona (DOCA).
Quantitativamente, o mais importante metabólito
urinário é o pregnanediol.
Progestagênios de Síntese
Os progestagênios de síntese podem ser subdivididos em:
estruturalmente semelhantes à progesterona ou à testosterona.
O primeiro grupo origina outros dois: os derivados da pregnana
e os da norpregnana. Já do segundo grupo derivam os compostos
sem e com etinila, este último compreende os derivados
da estrana e da gonana.
Progestagênios Estruturalmente Semelhantes à
Progesterona
A manipulação da molécula da progesterona levou ao
desenvolvimento de potentes progestagênios.
A adição do grupamento hidroxila ao carbono 17 da progesterona
promove a perda da sua atividade biológica. No entanto,
a acetilação ou a hidroxilação da 17-hidroxiprogesterona
lhe confere certo potencial progestacional.
A manipulação da molécula de acetato de 17-hidroxiprogesterona
no carbono 6, fez com que o efeito pela via oral
fosse semelhante ao da parenteral. A este grupo pertencem:
53
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
- acetato de medroxiprogesterona;
- acetato de megestrol;
- acetato de ciproterona;
- acetato de clormadinona;
- medrogestona.
Manipulação diferente originou a diidrogesterona. Nesta
molécula, o grupamento metila do carbono 10 está na orientação
α e, o hidrogênio do carbono 9, na orientação β. Estaduas orientações são opostas àquelas presentes na progesterona.
Outra alteração encontrada é uma dupla ligação entre os
carbonos 6 e 7.
O acetato de medroxiprogesterona liga-se fracamente à
albumina. Com relação ao seu metabolismo, pouco se sabe.
Acredita-se que haja perda do grupamento cetona do carbono
3 e hidroxilação, primeiramente nos carbonos 6 e 21, originando
os gluconatos. Quanto ao grupamento acetato, termina
intacto após a metabolização.
Dentro deste grupo, admite-se, atualmente, uma nova
classe de progestagênios, denominados de derivados 19-
norpregnanos, que podem, por sua vez, serem acetilados (acetato
de nomegestrol, nestorona) ou não-acetilados (demegestona,
promegestona e trimegestona). A trimegestona vem sendo empregada
pela sua alta seletividade ao receptor de progesterona
e pela alta potência progestagênica.
Dentro ainda deste mesmo grupo, dos progestagênios estruturalmente
semelhantes à progesterona, há uma nova estrutura
molecular que é derivada da 17α-espironolactona. Este éo progestagênio – drospirenona – que mais se aproxima exatamente
do perfil farmacológico da progesterona natural (Tabe54
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
la 1). A drospirenona e a progesterona apresentam elevadas
afinidades de ligação aos receptores da progesterona e
aldosterona e baixas afinidades de ligação aos receptores
androgênicos e estrogênicos. Ambas, progesterona e
drospirenona, são antiandrogênicas, sendo destituídas de quaisquer
efeitos androgênicos e não possuem atividade
glicocorticóide e antiglicocorticóide. Ambos compostos mostram
atividade antialdosterônica considerável. Em particular, a
drospirenona se contrapõe aos efeitos adversos relacionados ao
estrogênio, como retenção hídrica e ganho de peso. Também
existe efeito benéfico sobre a pressão arterial, principalmente
nas mulheres levemente hipertensas.
Tabela 1 - Atividade biológica da progesterona e dos principais progestagênios
Progesterona e
derivados sintéticos
Progesterona
Derivados da 17-alfa
hidroxi
Acetato de ciproterona
Acetato de medroxiprogesterona
Derivados da 19-norprogesterona
Acetato de
nomegestrol
Trimegestona
Derivados da 17alfa
espirolactona
Drospirenona
Derivados da 19-
Nortestosterona
Noretisterona
Levonorgestrel
Gestodeno
Desogestrel
55FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Progestagênios Estruturalmente Semelhantes à
Testosterona
Alterações químicas na testosterona produziram um grupo
de progestagênios orais potentes, etinilados e não-etinilados.
Do primeiro subgrupo originaram os derivados da estrana e da
gonana.
Com a adição do radical etinila ao carbono 17 da testosterona,
esta perde, em parte, sua atividade androgênica e adquire
atividade progestacional, podendo ser usada por via oral.
A remoção do grupamento metila do carbono 10 promove o
efeito progestacional da molécula e torna praticamente virtual
a sua ação androgênica. O composto resultante é a noretindrona
ou noretisterona.
Há quatro importantes derivados da noretindrona, com
atividade biológica por via oral:
- noretinodrel;
- linestrenol;
- acetato de noretindrona;
- diacetato de etinodiol.
O noretinodrel difere da noretindrona por apresentar
uma dupla ligação entre os carbonos 5 e 6, e não entre os carbonos
4 e 5. O linestrenol não tem radical cetona no carbono
3. O acetato de noretindrona tem um grupamento acetato no
carbono 3. E, finalmente, o diacetato de etinodiol possui dois
grupamentos acetato nos carbonos 3 e 17.
O metabolismo da noretindrona não parece diferir do
dos outros esteróides endógenos, incluíndo redução, hidroxilação
e conjugação. A maior concentração dos metabólitos, na
corrente sangüínea, reside nos sulfatos, seguido pela noretindrona
não-conjugada e seus metabólitos e pouquíssima quanti56
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
dade de gluconatos. Na urina encontra-se justamente o inverso.
Esta diferença resulta da maior afinidade do sulfato pela
albumina e pela maior taxa de filtração glomerular dos
gluconatos. O sulfato de noretindrona é importante para a
manutenção do nível progestacional, uma vez que as sulfatases
presentes em alguns tecidos clivam este hormônio inativo em
outro com atividade biológica.
O acetato de noretindrona e o diacetato de etinodiol sofrem
hidrólise, ao passo que o linestrenol sofre hidroxilação e
subseqüente oxidação do carbono 3, ambos originando um composto
precursor. O noretinodrel parece ser convertido em noretindrona,
o que ainda não foi comprovado.
A substituição do grupamento etila pelo metila no carbono
13, fornece à noretindrona maior potencial progestacional
por via oral. Esta gonana é denominada de norgestrel, sendo
sintetizada como uma mistura de compostos, na qual o levonorgestrel
é a forma biologicamente ativa. Potentes progestagênios
são sintetizados a partir da molécula de levonorgestrel, a saber:
- desogestrel;
- norgestimato;
- gestodeno.
A remoção do grupamento cetona do carbono 3 e a adição
do grupamento metilena no carbono11 origina o
desogestrel. A introdução de dupla ligação entre os carbonos
15 e 16, o gestodeno. E, por fim, a introdução do grupamento
oxima no carbono 3 e do acetato no carbono17 o norgestimato.
A metabolização do levonorgestrel é muito semelhante à
da noretindrona. No sangue, o metabólito mais encontrado é o
sulfato de levonorgestrel que, do mesmo modo que o sulfato de
noretindrona, é clivado pelas sulfatases teciduais, originando
57
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
efeito progestacional. Os metabólitos mais encontrados na urina
são o gluconato de tetraidrolevonorgestrel e o gluconato de
16α-hidroxitetraidrolevonorgestrel.Em geral, aceita-se que o desogestrel seja o precursor do
3 ceto-desogestrel, conhecido como etonogestrel. Tal dado foi
confirmado após a observação da concentração sangüínea do
etonogestrel ser mais prevalente após a administração do
desogestrel. O etonogestrel liga-se em 32% com a SHBG e em
66% com a albumina; apenas 2 a 3% circula no plasma em sua
forma livre.
Quanto ao norgestimato, observou-se que cerca de 22%
é metabolizado em levonorgestrel.
O gestodeno sofre redução, hidroxilação e conjugação,
originando uma série de metabólitos, entre eles o levonorgestrel,
em pequena quantidade. Circula ligado à SHBG em 75% dos
casos, 24% à albumina e apenas 1% permanece livre no plasma.
O gestodeno parece ter um índice substancialmente mais
alto de seletividade (relação entre a atividade progestagênica e
a atividade androgênica) do que alguns progestagênios atualmente
utilizados na terapia hormonal (TH) (como por exemplo,
o levonorgestrel e a noretisterona). A associação do
gestodeno em regime cíclico por 12 dias protege o endométrio
e evita o desenvolvimento de hiperplasia endometrial, proporcionando
bom controle de ciclo, sem se opor aos efeitos benéficos
do estradiol sobre a sintomatologia, o perfil lipídico e a
massa óssea. A associação hormonal estroprogestativa (estradiol
1 mg e a associação de 17 β-estradiol 1 mg e gestodeno 25mcg por 12dias), indicada para TH oral combinada cíclica
contínua, promove tratamento efetivo dos sintomas climatéricos.
58
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Em estudo de longo prazo, os parâmetros bioquímicos de remodelação
óssea (relação entre absorção e formação óssea) diminuíram
significativamente. A determinação da densidade mineral
óssea nestes estudos mostrou que a associação estradiolgestodeno
efetivamente previne a perda da massa óssea relacionada
à menopausa, promovendo a redução do risco de fraturas
de extremidades em pacientes climatéricas.
EFEITOS SOBRE O ORGANISMO FEMININO
Endométrio
As alterações endometriais iniciadas na ovulação, e que
duram até a fase menstrual demonstram o efeito progestacional.
A espessura do endométrio não se altera em relação à fase
pré-ovulatória, no entanto as glândulas tornam-se tortuosas e
as artérias espiraladas intensificam seu enovelamento.
Identificam-se três fases neste período:
Precoce - 1 a 4 dias pós-ovulação
Identificam-se, claramente, vacúolos subnucleares em
até 50% da glândulas endometriais. Este fato é
patognomônico da ovulação e ocorre até 36 h após a mesma;
os vacúolos podem persistir até o sexto dia após a ovulação.
Neste período as mitoses são raras.
Intermediaria - de 5 a 9 dias pós-ovulação
A secreção glandular é abundante e o edema do estroma
evidente, com pico entre o oitavo e nono dia após a ovulação;
visualiza-se ainda, à microscopia eletrônica, o alargamento dos
orifícios glandulares. Células ciliadas em abundância parecem
obstruir a entrada das glândulas (deste período em diante estas
59
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
células diminuem em número e seus cílios encurtam). Os núcleos
assumem posição basal. As artérias espiraladas iniciam sua
diferenciação entre o nono e décimo dias após a ovulação.
Tardia - de 10 dias pós-ovulação até a menstruação
Nesta fase inicia-se a decidualização do estroma, acompanhada
de regressão do edema. Estas alterações começam ao
redor das artérias espiraladas e seguem em direção às glândulas
localizadas na superfície do epitélio.
O endométrio pode sintetizar e secretar prolactina, sendo esta
atividade estimulada pela presença e pela dose de progesterona.
De maneira geral, a progesterona promove a diminuição
dos receptores de estrogênio e aumenta a atividade da 17β-hidroxiesteróide desidrogenase, enzima responsável pela conversão
de estradiol em estrona.
Com relação ao tipo de progestagênio há algumas diferenças
no mecanismo de ação. Sabe-se que os derivados 19nor
apresentam efeito atrófico mais intenso.
Miométrio
É a região muscular mais especializada do trato genital
feminino. As fibras musculares lisas dispõem-se em diferentes
direções, dividindo este órgão em regiões anatômicas e funcionais
distintas, que dependem, de certa maneira, da exposição
hormonal.
É o único músculo liso que depende da ação ao estrogênio
para apresentar atividade espontânea e rítmica. Deste modo, a
ação da progesterona se relaciona com o tempo de exposição
ao estrogênio, isto é, o miométrio que não foi submetido à ação
estrínica não altera a sua atividade sob efeito da progesterona.
60
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Ao inverso, o miométrio que foi previamente estimulado pelo
estrogênio modifica seu padrão contrátil na presença de progesterona,
com diminuição da contratilidade.
Cérvice
As alterações do muco cervical, durante o ciclo menstrual,
talvez sejam as mais conhecidas.
Na presença da progesterona, o muco torna-se mais
espesso, diminuindo sua quantidade, filância e cristalização,
criando um ambiente hostil à migração dos
espermatozóides.
Tuba Uterina
A tuba uterina também responde aos hormônios
esteróides.
Como no endométrio, a endossalpinge, na presença de
progesterona, ativa a 17β-hidroxiesteróide desidrogenase transformandoo estradiol em estrona. As células na fase secretora
perdem seus cílios, as mitoses são raras e há aumento do número
de células secretoras.
A miossalpinge acha-se disposta em camadas, e na região
do istmo tende a formar uma camada circular e outra longitudinal;
já na ampola a musculatura é menos exuberante. A progesterona
inibe a contração da musculatura tubária.
Vagina
A vagina, como os outros órgãos, também responde à progesterona,
a qual parece impedir a maturação das células da
camada intermediária do epitélio vaginal.
Com relação ao esfregaço, predominam as células
parabasais.
61
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Mamas
A função da mama é a lactação. Na mulher em idade
reprodutiva, em período não-gestacional, a mama permanece
em “repouso”. No entanto, existe uma série de mudanças periódicas,
decorrentes das flutuações hormonais em cada ciclo
menstrual.
Com relação à progesterona, exerce as seguinte ações:
- maturação do galctóforo;
- desenvolvimento dos ácinos;
- inibe a vasodilatação;
- inibe o edema tecidual;
- inibe a diferenciação celular do ducto;
- inibe a proliferação ductal induzida pelo estrogênio.
Recentemente, dados de literatura sugerem que a progesterona
não teria efeito protetor na mama à semelhança do
que ocorre no endométrio, quando usada em doses terapêuticas.
Efeitos Sobre o Sistema Nervoso Central
Os hormônio sexuais e seus metabólitos podem exercer
várias ações no sistema nervoso central (SNC). Estas incluem
ações diretas e indiretas sobre os neurônios, células da glia e
vasos. A maioria destes efeitos requer a presença de receptores
esteroídicos mediados por genes, transcrição e tradução,
que podem levar horas ou mesmo dias para promover as alterações
biológicas.
A progesterona apresenta diversas ações no SNC, que
podem ser subdivididas, de acordo com o tempo médio que
decorre entre a sua administração e o seu efeito, em:
62
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
ação rápida
- estimula a liberação de dopamina no núcleo estriado;
- estimula liberação de GnRH pelo hipotálamo;
- modula a capacidade de ligação do receptor da ocitocina
no hipotálamo;
- inibe a capacidade de ligação do receptor de opióide;
- potencializa as ações do GABA.
ação lenta
- resposta genômica mediada pelo receptor esteroídico;
- diferenciação e crescimento dos nervos;
- modulação das partículas protéicas intramembrana;
- alteração citoarquitetural;
- alteração sináptica no hipotálamo.
Além disto, atua no centro termorregulador, gerando
aumento da temperatura basal corpórea.
INDICAÇÕES
Podem-se utilizar os progestagênios de síntese nas seguintes
eventualidades:
- sangramento disfuncional do endométrio;
- amenorréia;
- climatério;
- anticoncepção;
- deficiência na fase lútea;
- síndrome da tensão pré-menstrual;
- endometriose;
- hirsutismo;
- puberdade precoce;
- adenocarcinoma de endométrio;
- osteoporose grave.
63
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
CONTRA-INDICAÇÕES
- tromboembolismo;
- doença varicosa grave;
- hipercolesterolemia;
- infarto agudo do miocárdio;
- doença enxaquecosa crônica;
- obesidade;
- pacientes com tendência a apresentar cloasma;
- tabagismo;
- lesões intra-epiteliais do duto mamário.
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
- oral;
- intramuscular;
- implante;
- transdérmica;
- anel vaginal;
- intranasal;
- dispositivo intra-uterino.
EFEITOS COLATERAIS
- irritabilidade;
- cefaléia e ou enxaqueca;
- ganho de peso;
- edema;
- prurido e outras manifestações alérgicas;
- alteração no perfil lipídico, principalmente os derivados
19nor;
- mastalgia;
- diminuição da libido;
- efeitos mamários.
64
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
7. ANDROGÊNIOS –
FARMACOLOGIA E INDICAÇÕES
NO CLIMATÉRIO
O papel dos androgênios na terapia hormonal na pósmenopausa
(TH) é uma área de grande controvérsia. Os clínicos
diferem de opinião, desde aqueles que acreditam que a adição
de androgênio seja uma prática perigosa e da qual se possa
arrepender, até aqueles que acreditam que a aplicação dos androgênios
seja vital para a manutenção dos niveís de energia,
função cognitiva e libido. Esse debate é muito apaixonado e
constituido mais de mitos do que de um sólido conhecimento
da literatura disponível.
A homeostase androgênica se altera no climatério. Para a
maioria das mulheres, a terapia estrogênica é suficiente para
tratar os sintomas que aparecem com a menopausa. Com raras
exceções certos sintomas persistem a despeito da adequada terapia.
Nestes casos, a adição de substâncias androgênicas pode
ser útil. Por outro lado, esta terapia é associada a efeitos colaterais,
que podem ser de ordem metabólica, cosmética e psicológica,
a depender da dose, da via de administração e do composto
empregado.
PRINCÍPIOS DA FISIOLOGIA ENDÓCRINA
DOS ANDROGÊNIOS
Os androgênios foram inicialmente descritos como compostos
que induzem o desenvolvimento de caracteres sexuais
secundários masculinos. Tais compostos possuem uma estrutu65
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
ra de 19 carbonos. Há 3 grupos clinicamente relevantes de
androgênios: precursores, testosterona e metabólitos androgênicos.
Os precursores incluem a deidroepiandrostenediona
(DHEA), sulfato de deidroepiandrostenediona (DHEAS) e
androstenediona.
A testosterona é o androgênio clássico, tendo vários
metabólitos, incluíndo a deidrotestosterona. Os androgênios
são produzidos pela via de síntese dos esteróides. Assim, constituem
passagem importante na produção do próprio estradiol,
por aromatização. Há três sitios básicos onde ocorre a produção
dos androgênios: os ovários, as glândulas supra-renais e o
tecido adiposo periférico, que na realidade funciona como um
órgão de síntese endócrina. O seu metabolismo ocorre principalmente
no fígado e nos tecidos. A testosterona pode tanto ser
aromatizada em estradiol ou, pela ação da enzima 5 α redutase,ser convertida em deidrotestosterona. Os rins são os responsáveis
pela sua excreção.
AGENTES FARMACOLÓGICOS DISPONÍVEIS
A testosterona tomada por via oral, é rapidamente
metabolizada e inativada pelo fígado. Por esta razão precisa ser
modificada para ser administrada por via oral ou então deve
ser ministrada por outra via. Neste aspecto é muito similar ao
estradiol.
A meia-vida da testosterona no soro é de 10 a 20 minutos.
Para ter aplicação clínica, deve ser administrada em preparações
de liberação sustentada. Isto se consegue ao colocá-la
em veículo injetável pesado, tal como o óleo de sésamo. Alternativamente,
pode ser acondicionada em implantes de libera66
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
ção lenta. Outra opção é modificar a sua estrutura química,
resultando em compostos como o undecanoato de testosterona,
que é eficiente quando administrado oralmente.
Na América do Norte a via oral, os injetáveis depot e os
implantes subcutâneos são os métodos mais utilizados. Muitas
destas preparações combinam estrogênio e testosterona. Sistemas
de liberação transdérmica e vaginal estão sendo desenvolvidos
e usados na Europa. Há interesse atualmente no uso de
DHEA ou DHEAS na pós-menopausa.
BENEFÍCIOS DA TERAPIA ANDROGÊNICA
A queda mais dramática dos níveis de testosterona
ocorre em mulheres após a ooforectomia; com a menopausa
natural, a mudança é mais sutil. Devido a este declínio, a
terapia hormonal com testosterona tem sido defendida. Enquanto
os níveis de testosterona caem logo após a
ooforectomia, eles ainda permanecem estáveis para a maioria
das mulheres. Não se pode distinguir mulheres com ou
sem ovários na menopausa, tendo por base somente os níveis
de testosterona, porque estes níveis entre os dois grupos
se confundem muito. Clinicamente a mensuração basal da
testosterona é muito pobre para identificar pacientes que
vão ou não se benificiar com esta terapia. Diferentemente,
parece que cada mulher tem nível específico de circulação
de testosterona e este ponto precisa ser determinado por
meio de tentativas. Algumas mulheres parecem manter os
níveis de circulação de androgênios sempre adequados no
decorrer de suas vidas, ao passo que outras se beneficiam
grandemente com a terapia androgênica.
67
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Os benefícios da terapia androgênica estão listados na
Tabela 1. Enfatiza-se que muitos destes efeitos positivos estão
no eixo psicológico, no qual documentação objetiva é problemática.
Finalmente, muitas tentativas iniciais usaram doses que
produziram níveis de testosterona plasmática em patamar
farmacológico diferente dos fisiológicos.
Alguns estudos documentaram muitos dos aspectos positivos
da terapia com testosterona, usando um preparado
parenteral combinado de estrogênio e testosterona. Tais estudos
incluíram pacientes com menopausa natural e cirúrgica.
Demostraram que o comportamento sexual motivado,
sofre efeitos benéficos com a terapia com testosterona. Isto inclui
efeitos positivos em fantasias sexuais, desejo sexual e excitação.
No entanto, não havia associação com a atividade do coito.
Sexualidade
↑ Desejo sexual
↑ Excitação
↑ Frequência de fantasias sexuaisSem resposta fisiológica
Sem resposta interpessoal
Depressão
Diminuída
Função cognitiva
↑ Memória
Humor
Mais estável
Mais energia
Densidade mineral óssea
Manutenção
Tabela 1 - Benefícios da terapia androgênica
68
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Myers et al estudaram um grupo de mulheres com menopausa
natural, usando 5 mg de metiltestosterona. Este preparado
não aumentou os níveis de testosterona endógena mas
atuou como um androgênio, em nível das células-alvo. Seus
resultados são similares ao estudo anterior mas as conclusões
diferem no que tange ao número de atividade sexual.
Concluiu-se que em indivíduos saudáveis, os esteróides
sexuais contribuíram pouco para a efetiva expressão da sexualidade.
A função cognitiva também parece ser afetada pelas
mudanças da menopausa. Novamente parece que a
testosterona pode aliviá-la particularmente com respeito à
memória de curto e longo tempo e à capacidade de racíocinio
lógico. A preservação destas funções cognitivas são descritas
com estrogênio ou testosterona. Isto sugere que os
estrogênios podem ser o elemento-chave e o impacto da
testosterona é mediado por sua conversão em estrogênio. Há
necessidade de investigações mais profundas.
O humor é afetado pelos androgênios. Mulheres em tratamento
com testosterona isolada, ou associada ao estrogênio,
disseram estar mais animadas, mais felizes e com maior energia
comparadas com mulheres que recebiam somente estrogênio.
Seus resultados em testes padronizados, mostraram melhorias
nos sintomas psicológicos e psicossomáticos, maior nível de energia
e de bem-estar do que as do grupo controle.
A predominância de osteoporose em mulheres mais do
que em homens, levantou a possibilidade de que os androgênios
podem ter algum efeito positivo na massa óssea e no metabolismo
ósseo. Assim como tem sido identificado nos ossos recepto69
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
res de estrogênio, receptores específicos de androgênios têm
sido identificados em células semelhantes ao osteoblasto. A testosterona
também tem um impacto sobre o metabolismo ósseo,
de forma semelhante ao estrogênio, mas parece ser menos
potente.
Estudo feito por Horowitz revelou que perto de um
quarto de homens com hipogonadismo (síndrome de
Klinefelter) tinham osteopenia. Outro estudo de Finkelstein
revelou que homens com hipogonadismo hipogonadotrófico
idiopático tinham a densidade mineral óssea comprometida
e que isto poderia ser melhorado com a terapia com
testosterona ainda que em extenção limitada. Já o impacto
dos androgênios no metabolismo ósseo das mulheres é pequena.
Ainda há muito pouca informação para se comparar os
efeitos dos diferentes preparados androgênicos. O consenso
geral é de que eles atuam de modo comparável, indiferentemente
da preparação utilizada.
Os benefícios da terapia com testosterona precisam ser
confrontados com os seus possíveis efeitos adversos.
RISCOS E EFEITOS ADVERSOS NA TERAPIA
ANDROGÊNICA
Os riscos e os efeitos adversos da terapia androgênica podem
ser divididos em: metabólicos, cosméticos e psicológicos, e
estão listados na Tabela 2. Deve-se distinguir entre os efeitos
colaterais que possam ser atribuídos aos efeitos fisiológicos dos
androgênios, daqueles relacionados com as propriedades
farmacológicas dos agentes terapêuticos.
70
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
A complicação mais citada da terapia androgênica seria
o impacto sobre o perfil lipídico, visto a diferença desse metabolismo
em relação aos sexos. Descreveu-se a redução dos níveis
de HDL em mulheres com a síndrome de ovários policísticos
e hiperandrogenismo. No homem esse aspecto difere mostrando
uma correlação positiva entre os níveis de testosterona e
HDL. A obesidade central e a redução da globulina transportadora
de hormônios sexuais (SHBG), proporcionam um nível
mais elevado de testosterona livre, deteriorando o perfil lipídico,
assim como aumentando os níveis de PAI-1, um mediador importante
no risco cardiovascular. Por outro lado, há estudos
demostrando que a administração parenteral tem menor efeito
sobre o perfil lipídico do que a oral.
Em resumo, ainda há muito pouca informação para levar
a conclusões definitivas sobre o impacto da terapia com
androgênio na pós-menopausa. Os achados dos vários trabalhos
são contraditórios. Os níveis de HDL e LDL são apenas poucos
Tabela 2 - Efeitos adversos potenciais e reconhecidos da terapia androgênica
Perfil lipídico alterado
Aumento do risco para câncer de mama
Teste de função hepática alterados (somente com androgênio oral)
Efeitos Cosméticos
Hirsutismo
Acne
Aumento do clitóris
Masculinização
Mudança de voz
Efeitos psicológicos
Efeitos de vício
Estimulação indesejada da libido
71
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
de muitos elementos que contribuem para a etiologia da doença
coronariana na mulher. Mais avaliações são necessárias para estabelecer
qual é o verdadeiro efeito dos androgênios no sistema
cardiovascular.
Vários estudos tentaram mostrar associação entre nível
elevado de androgênio e câncer de mama. Não podemos nos
esquecer neste particular, que o androgênio na mama aromatizase
e se transforma em estrogênio, alcançando concentrações
mais elevadas, o que poderia favorecer o risco maior desta
neoplasia.
No entanto, pela contradição dos trabalhos efetuados e
relacionando o uso dos androgênios com risco de câncer de
mama pesquisas mais intensas deverão ser efetuadas.
As preparações orais com androgênios têm sido citadas
como fatores que elevassem a incidência de disfunção hepática
e câncer. A incidência destes problemas não tem sido bem
estabelecida e eles só foram observados em terapêutica com dose
muito alta de metiltestosterona (150 mg/dia). Ainda que o
risco seja baixo em mulheres que estão usando dosagens pequenas
(1,25 a 10 mg/dia), estas pacientes devem submeter-se
a testes de função hepática periodicamente.
No que se refere a efeitos cosméticos e mudança no tom
de voz, devido à terapia com testosterona, há poucos relatos
publicados. Portanto, considerações sobre estes efeitos devem
ser cuidadosas.
Observação surpreendente compartilhada por muitos
médicos é o perfil psicológico de muitas mulheres que estão
usando terapia com testosterona, particularmente quando administrada
por via parenteral. Mesmo quando sérias complica72
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
ções são suscitadas pela terapia, como clitoromegalia e hirsutismo,
tais pacientes são completamente incapazes de parar com
a medicação. Isto se apresenta como “algo similar a um vício”.
As tentativas de disuadí-las geralmente falham.
TERAPIA TÓPICA COM ANDROGÊNIOS
O uso da terapia tópica com androgênios está limitada
principalmente ao tratamento das distrofias da vulva. A sua eficácia
foi primeiramente descrita por Cinberg em 1945.
No presente, a testosterona tópica é especificamente usada
para o tratamento do líquen escleroso e atrófico e outras
distrofias da vulva.
Líquen escleroso e atrófico é uma condição dermatológica
caracterizada por prurido, aspereza regional e ulcerações. Este
processo é piorado pelo trauma local, roupa e o coçar. Os achados
de ultra-estrutura são aumento local do metabolismo de
colágeno e decréscimo no número de capilares.
A doença é tipicamente associada com a baixa dos níveis
de deidrotestosterona e androstenediona, ao passo que os níveis
de testosterona livre estão altos. Friedrich e Kalra sugerem
que esse achados representam um bloqueio na 5 α-redutase,responsável pela converção de testosterona em
deidrotestosterona localmente. Nestes estudos foi administrado
propionato de testosterona tópico a 2%. A deidrotestosterona
e a testosterona se elevaram no soro significativamente. Os autores
propõem que a terapia com testosterona induz o aumento
da atividade de 5α−redutase. Com o tratamento demonstrou-se retorno às condições normais da pele, neovascularização
e perda da homogeneidade anormal da zona dérmica. Em re73
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
sumo, a testosterona aplicada localmente na vulva, na terapia
do líquen escleroso, oferece bons resultados. Há entretanto absorção
sistêmica e as pacientes devem ser observadas com relação
aos efeitos colaterais, quando tratadas por longo período
de tempo. É interessante notar que a variabilidade nos efeitos
colaterais pode representar a variação no número de receptores
androgênicos e a sensibilidade de cada paciente.
CONCLUSÕES
Em um dos relatórios iniciais sobre terapia androgênica
em mulheres, Greenblatt em 1949 sugere os seguintes procedimentos
para o seu uso em mulheres na menopausa:
“Em certas pacientes com síndrome menopausal, nas quais
a terapia com estrogênio não foi satisfatória... A mulher que
não é psicologicamente frígida e na qual é desejável o crescimento
da libido.”
Apesar de se dispor de novas informações, esta conduta é
ainda bastante atual.
O uso de androgênio na TH não deve ser rotineiro. Testosterona
sistêmica por si só sem estrogênio, não tem lugar na
medicina moderna; preparações tópicas podem ser usadas, em
condições dermatológicas específicas, como foi citado previamente.
Entretanto, achamos que a testosterona e os androgênios
devem ser considerados como terapia coadjuvante em
circustâncias especiais. Os critérios para se considerar uma paciente
para a terapia com testosterona seriam: a) falha dosestrogênios para diminuir os sintomas climatéricos; b) ausênciade alterações da tireóide e hiperprolactinemia;
c) ausência depsicopatia; d) diminuição da libido, desatenção e falta de ener74
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
gia. Se todos estes critérios forem satisfeitos, devemos dosar os
níveis basais de testosterona e DHEA no soro, assim como obter
um perfil lipídico. Inicia-se a terapêutica com um combinado
com baixa dose de estrogênio e metiltestosterona. Por causa
desta escolha fazemos também testes para função hepática.
Reavaliamos a situação após tres mêses de terapia. Se a paciente
estiver se dando bem, mantemos o tratamento por um ano,
quando reverteremos, para o uso de estrogênio sem testosterona.
Está abordagem tem sido recompensada com boa resposta. A
incidência de efeitos colaterais é mínima e as pacientes podem
suspender o uso de testosterona, sem grandes problemas.
Outra abordagem que nos parece aceitável, é seguir o
mesmo protocolo, mas escolher um preparado com testosterona
parenteral. Se isto for feito, os níveis de testosterona no soro
precisam ser avaliados com freqüência, preferivelmente em intervalos
mensais. Devemos ter cuidado para menter os níveis
de testosterona em patamar fisiológico. Então, a dose deve ser
individualizada e freqüentemente ajustada. Apresentam-se, na
Tabela 3, os androgênios mais utilizados em TH.
Tabela 3 - Androgênios mais utilizados e respectivas doses
Oral
Metiltestosterona_______________________________1,25 - 2,5 - 5,0 mg/dia
Undecanoato de testosterona________________________________40 mg/dia
Parenteral
Androgênios puros
Cipionato de testosterona__________________________50 - 100 mg/mês
Enantato de testosterona___________________________50 - 100 mg/mês
Implante de testosterona___________________________25 mg/ 6/6 meses
Associação Estrogênio / Androgênio
Benzoato / Fenilpropionato de estradiol_____________________5 mg/mês
Propionato/Fenilpropionato/Isocaproato de testosterona______100 mg/mês
75
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Alguns preferem adminstrar dosagens mais altas, particularmente
de testosterona por implantes subcutâneos.
Em conclusão, os androgênios são coadjuvantes úteis na
TH para mulheres bem selecionadas. Estas pacientes devem
ser seguidas de perto e reavaliadas constantemente. São ainda
necessárias maiores investigações nesta área de tão grande relevância
clínica.
76
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
8. ANTICONCEPÇÃO
NO CLIMATÉRIO
Tema sempre atual e dos mais controversos nos seus variados
aspectos, tentaremos analisá-lo de forma objetiva e prática.
A escolha de um método anticonceptivo constitui, às vezes,
difícil problema para a mulher madura e para seu médico.
A partir dos 35 anos de idade, involui gradativamente a função
reprodutiva, embora a mulher possa permanecer fértil por
mais 10 a 15 anos, período durante o qual se observam o aumento
da morbimortalidade materna e perinatal e maior risco
de anomalias congênitas.
Não podemos deixar de considerar alguns dados da
maior relevância sobre a gravidez nesta faixa etária: a) maiorocorrência de partos prematuros, toxemia e hipertensão
arterial; b) maior prevalência de diabete gestacional; c) incidênciaelevada de abortamentos espontâneos; d) maiorincidência da síndrome de Down (1/32 aos 45 anos de
idade).
Alguns fatores contribuem para diminuir a fertilidade
média de cada casal nesta faixa etária: a) a ocorrência crescentede insuficiência lútea e dos ciclos anovulatórios; b) menor freqüênciade coitos;
c) grande aumento na incidência deabortamentos por causas cromossômicas.
Estudos recentes indicam que 80% das mulheres com
mais de 45 anos de idade têm ciclos anovulatórios. A fertilidade
masculina também declina com a idade.
77
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Embora não contemos com estatística confiável quanto à
fertilidade dos casais maduros – não devemos e nem podemos
considerar a concepção como provável entre eles.
No Reino Unido, no ano de 1984, ocorreram quase 1000
gestações em mulheres com idade entre 45 e 49 anos e mais de
40 gestações em mulheres com mais de 49 anos. Vale ressaltar
que, naquele mesmo país, a maior taxa de abortamentos é encontrada
no grupo etário com mais de 35 anos.
No Brasil, neste mesmo ano, segundo dados do Ministério
da Saúde, foi de 1476 o número de partos ocorridos em
mulheres com idade acima dos 50 anos. Sabemos que, na prática,
este número é bem mais significativo, embora não saibamos,
ao certo, a fase da vida em que a fertilidade pode ser considerada
igual a zero. Daí a necessidade imperiosa de estarmos
atentos ante à possibilidade de gravidez na mulher climatérica,
tendo em vista os transtornos que podem advir para a paciente
e para os quais concorre também o fator individual. O uso de
qualquer método contraceptivo em mulheres acima dos 35 anos
de idade apresenta menor taxa de mortalidade quando comparado
àquelas que não estão utilizando. A exceção está nas
usuárias de pílula, tabagistas e com mais de 40 anos.
Por todos os fatores sumariamente analisados, muitas vezes
associados a problemas sociais e econômicos é que aumenta
a importância em se utilizar, nessa faixa etária, um método
anticonceptivo eficaz e que ofereça um mínimo de riscos para
as pacientes. Lembrar que, em geral, a terapia hormonal (TH)
não tem ação contraceptiva.
O climatério é considerado como o período da vida da
mulher que corresponde à transição entre a fase reprodutiva e
78
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
a não-reprodutiva; baseado neste conceito é que devemos orientar
a anticoncepção até um ano após a última menstruação
(menopausa – FSH superior a 30-35 mUI/mL). A despeito do
elevado número de informações disponíveis sobre os métodos
anticoncepcionais, constata-se, ainda, ser pequeno o conhecimento
sobre o uso em mulheres na perimenopausa.
Passemos agora a analisar os diversos métodos anticoncepcionais:
1. Métodos Hormonais:
a. Anticoncepção oral combinada: * Monofásica
* Bifásica
* Trifásica
b. Minipílulas (progestagênio de uso contínuo)
c. Pílula emergencial (pós-coital)
d. Injetáveis: * Mensal
* Trimensal
e. Implantes
f. Anel Vaginal
g. Transdérmico
2. Dispositivos Intra-Uterinos (DIUs)
3. Métodos de Barreira
a) Condom (preservativo masculino e feminino)
b) Diafragma vaginal
c) Espermaticida
4. Métodos Comportamentais (Naturais)
a) Rítmico (vários)
b) Coito interrompido
5. Métodos Cirúrgicos
a) Esterilização: Masculina
Feminina
MÉTODOS HORMONAIS -ANTICONCEPÇÃO ORAL
COMBINADA (AOC)
Tópico dos mais controversos, principalmente em se tratando
de mulheres na faixa climatérica, exige que façamos algumas
considerações que nos parecem da maior relevância.
79
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Quase 40 anos se passaram do lançamento da primeira
pílula comercializada no mercado farmacêutico mundial. É importante
ressaltar a drástica redução das doses dos esteróides.
De uma dose de 210,0 mg por ciclo no início da década de
1960, dispomos atualmente de associações com menos de 2,0
mg por ciclo. A redução das doses foi fundamental para a relação
riscos x benefícios. Com as elevadas doses, os AOC causavam
uma série de efeitos desagradáveis, inibindo profundamente
o eixo neuroendócrino e promovendo alterações metabólicas
importantes. Devemos ainda ressaltar a ação inerente a cada
um dos componentes da pílula e que a atribuição dos efeitos é
dependente da dose empregada, bem como da relação
estrogênio/progestagênio utilizada. O estrogênio semi-sintético
parece ser o hormônio responsável pelas complicações no
sistema venoso, ao passo que o progestagênio tem ação danosa
sobre o sistema arterial.
Apesar de ainda serem comercializadas várias associações
com doses elevadas de esteróides – o que é inconcebível,
pois sabemos que a grande demanda dos AOC no Brasil não
passa por um receituário médico – só indicamos, em geral, na
mulher acima dos 35 anos, as associações contendo
levonorgestrel, desogestrel e gestodeno associadas a 30 e 20μgde etinilestradiol.
Essas associações, de baixas doses, além de garantirem
excelente eficácia, têm melhor tolerabilidade, reduzindo
bastante os fatores de risco e melhorando a adesão
ao método.
A finalidade dessa classificação não se limita a fins didáticos,
pois temos indicações precisas para cada tipo.
80
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
FATORES DE RISCO
Fumo - Mais importante do que a idade. Aumenta, em muito,o risco tromboembólico, não devendo, portanto, ser indicada
a AHOC (anticoncepção hormonal oral combinada) para as
mulheres tabagistas com mais de 35 anos.
Idade - Até há pouco tempo, tomava-se como limite a idadede 35 anos. Hoje, com as novas formulações, emprega-se a
AHOC em mulheres, desde que hígidas e não-tabagistas, até a
menopausa.
Sedentarismo e Obesidade - São fatores de risco para adoença vascular e para o sistema de coagulação. Há necessidade
de se instituir dieta adequada e de se indicarem exercícios
físicos.
Hipertensão Arterial - Tende a se elevar com a idade, principalmenteapós os 40 anos. Ambos os componentes da pílula
participam na gênese da hipertensão arterial sistêmica. Os estrogênios
semi-sintéticos estimulam a síntese hepática dos
substratos da renina, os quais favorecem a conversão da angiotensina,
que atua sobre as arteríolas promovendo vasoconstricção.
Eles também agem na supra-renal, liberando aldosterona
e retendo sódio e água. Têm ainda ação sobre as células
endoteliais, a vasopressina e a musculatura cardíaca. Os progestagênios
derivados 19-nor – como os androgênios – fazem
o oposto dos estrogênios; elevam a lipoproteína aterogênica
(LDL) e diminuem a lipoproteína protetora contra a
aterosclerose (HDL). Como resultado, teremos a elevação da
tensão arterial por aterosclerose.
Além da idade, essas alterações relacionam-se com a dose
e com o tempo de uso dos anticonceptivos orais combinados.
81
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Diabete - As alterações dos hidratos de carbono não se relacionamcom o tempo de uso e são potencializadas pela idade,
obesidade e história familiar de diabete.
O estrogênio semi-sintético potencializa os efeitos
diabetogênicos, os quais decorrem, principalmente, da ação do
progestagênio (defeitos pós-receptores de insulina), que diminui
a tolerância à glicose. Os estrogênios, por estímulo hipofisário,
elevam a somatotrofina (GH) e, conseqüentemente, levam a
hiperglicemia. Este fato desencadeia o aumento da secreção pancreática
de insulina, que neutraliza a elevação da glicose.
História Familiar ou Pessoal de Doença Vascular - Admite-se que a redução das doses dos componentes da pílula, bem
como a síntese de novos progestagênios, permitiram menor impacto
sobre os principais fatores de risco que participam da
origem das doenças cardiovasculares.
O estrogênio semi-sintético é o responsável direto pelas
alterações que ocorrem no sistema de coagulação (dose-dependente).
Ele atua sobre os metabólitos das prostaglandinas, fazendo
diminuir os níveis de prostaciclina e aumentando a produção
de tromboxana A2. Este desequilíbrio proporciona vasoconstricção,com aumento da agregação plaquetária e, conseqüentemente,
maior possibilidade de trombose venosa.
É consensual o fato de que a insuficiência venosa acentua-
se com a idade. Por este motivo, na mulher climatérica, os
cuidados terão que ser ainda maiores na indicação dos AHOC.
BENEFÍCIOS
Ao ser indicada a pílula como método anticoncepcional
devemos ter os seguintes cuidados: após minuciosa
82
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
CLIMATÉRIO
ANTICONCEPÇÃO HORMONAL ORAL
CONTRACEPTIVO
Lipoproteínas Instabilidade vasomotora
Disfunções urogenitais
Pele (colágeno) Metabolismo ósseo
Neoplasias
anamnese, proceder a rigoroso exame físico, tanto geral como
ginecológico. Em seguida, solicitar os exames bioquímicos
necessários para cada paciente. Com esta conduta, afastam-se
os fatores de risco.
Além do benefício contraceptivo, a AHOC atua na instabilidade
vasomotora, nos metabolismos ósseo e das lipoproteínas,
na prevenção das disfunções urogenitais e sobre a pele e o
colágeno.
Além da eficácia devidamente comprovada a AHOC não
interfere na vida sexual do casal.
Em doses baixas, essas substâncias determinam reduzidos
efeitos colaterais.
Em nossa óptica, nessa faixa etária, em geral, a mulher
não deve ter filhos, pelas razões já expostas anteriormente.
Todas as usuárias devem ser bem orientadas em relação
ao método.
O uso da pílula de baixa dose na mulher acima dos 35
anos de idade previne a osteopenia, a perda do colágeno, as
BENEFÍCIOS
83
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
disfunções urogenitais, bem como os sintomas vasomotores, sem
falar na melhora da qualidade de vida da usuária.
Ela ainda atua de forma benéfica, principalmente com
as associações trifásicas, melhorando o perfil lipídico – eleva as
lipoproteínas de alta densidade HDL, diminuindo, portanto,
a morbimortalidade por doenças cardiovasculares.
Em relação às neoplasias, não há trabalhos na literatura
que relacionem o uso das pílulas na pré-menopausa com a ocorrência
de neoplasias.
Quanto ao câncer da vagina e da vulva, não há qualquer
relação entre eles e o uso da pílula.
No tocante ao câncer de colo do útero, não há referências
científicas que imputem à pílula qualquer interferência
direta.
É possível que, em usuárias fazendo uso da AOC por longo
tempo com dose progestagênica elevada, o risco aumente,
quando associado a fatores epidemiológicos de risco (múltiplos
parceiros, HPV, multiparidade, vida sexual muito prococe e
constante, etc.).
Em relação ao câncer de mama, a grande maioria dos
estudiosos no assunto afirma não haver correlação com o uso
da pílula de baixa dose; ou seja, a AHOC não traria benefícios
ou riscos para o câncer de mama.
No entanto, o tema tornou-se polêmico com o surpreendente
trabalho sueco divulgado em 1989. Foi analisado o risco
do câncer de mama em mulheres na pós-menopausa, com uso
de terapêutica hormonal concluíndo que o progestagênio, quando
associado ao estrogênio, elevaria o risco do câncer de mama
(RR = 4,4). O pequeno número de pacientes estudadas e as falhas
encontradas na elaboração do trabalho, tornaram-no esta84
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
tisticamente não-significativo e, portanto, alvo de muitas críticas.
Em 1993 outro trabalho, com uma casuística maior, e modificações
metodológicas, observou risco relativo de (RR = 1,6).
A literatura é concorde quanto ao efeito protetor que as
combinações anticonceptivas de baixas doses conferem às
neoplasias ovarianas e endometriais. Evidente e progressiva proteção
(em torno de 50%) em relação ao adenocarcinoma de
ovário e de endométrio, caracteriza, sem dúvida, um dos grandes
benefícios da AHOC.
OUTROS BENEFÍCIOS ATRIBUÍDOS AOS AOC
a) Protegem contra a doença inflamatória pélvica (DIP) e asmoléstias benignas das mamas (doença fibrocísticafibroadenoma);
b) Corrigem inúmeras alterações menstruais, tão comunsnesse período, bem como melhoram a dismenorréia e a TPM;
c) Estudos recentes parecem demonstrar que essas substânciasmelhoram a artrite reumatóide (suprimem a resposta autoimune);
d) Melhoria das manifestações androgênicas e redução dafreqüência dos cistos funcionais do ovário;
e) Redução da anemia ferropriva;
f) Reduzem o risco relativo de mortalidade materna na gravidez.Pelo exposto:
– Indicamos a anticoncepção oral combinada selecionando
as pacientes e considerando os fatores de riscos e as contraindicações.
Não há dúvida de que os efeitos metabólicos podem ser atribuídos
aos dois componentes da pílula.
85
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Observa-se redução das alterações metabólicas, devido ao
sinergismo entre o estrogênio e o progestagênio e a diminuição
das doses dos esteróides;
Concluimos que os efeitos benéficos suplantam os riscos de
eventuais alterações metabólicas.
Pesquisas realizadas na década passada, com mulheres acima
de 35 anos de idade, utilizando-se a associação valerato de
estradiol (estrogênio não-sintético) e acetato de ciproterona,
mostraram excelentes resultados, comprovando a eficácia do
método. Não sabemos o motivo de, até o presente momento, a
associação não ser comercializada com fins anticonceptivos;
- Novas vias estão sendo pesquisadas. As pesquisas continuam,
na tentativa de se desenvolver novos esteróides ou de se
reduzirem, ainda mais, as doses dos que estão em uso, assegurando-
se a eficácia e a segurança. O anticonceptivo hormonal
combinado de baixa dose é considerado o ideal para as mulheres
climatéricas que desejam alta eficácia, fácil reversibilidade,
além dos já citados benefícios extracontraceptivos.
MINIPÍLULAS (PROGESTAGÊNIO DE USO
CONTÍNUO)
No Brasil, várias formulações são comercializadas com diferentes
progestagênios. O acetato de noretindrona na dose de
350 μg por comprimido; o levonorgestrel, na dose de 30 μg; eo linestrenol, na dose de 500 mg e do desogestrel na dose de
75 mg/dia. O uso é diário e contínuo.
Como a fertilidade diminui nas mulheres dessa faixa etária,
alguns autores consideram a minipílula uma alternativa
anticonceptiva bastante eficaz.
A eficácia da minipílula é inferior à do anticonceptivo
oral combinado. Além disso, suprime a lipoproteína protetora
86
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
contra aterosclerose; promove, com maior freqüência, alterações
menstruais (o que já é um problema neste período de vida
da mulher) e ainda aumenta a possibilidade de prenhez
ectópica.
Ao nosso ver, em uma análise prática, a minipílula nunca
ocupou um lugar de destaque na anticoncepção no Brasil. Ela
tem seu uso limitado aos casos de intolerância e/ou contra-indicação
aos estrogênios.
ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA (PÓS-COITAL)
É uma medida de caráter emergencial, quando ocorre
coito não-protegido, não programado.
Indicamos, em geral, a anticoncepção hormonal oral, com
50 μg de etinilestradiol associados a 250 μg de levonorgestrel,em duas doses de dois comprimidos, com intervalo de 12 horas.
Este esquema deve ser iniciado o mais precocemente possível,
até no máximo de 72 horas após o intercurso sexual. Recentemente,
também vem sendo utilizado o levonorgestrel, na
dose de 750 μg, em duas tomadas.As principais indicações são: relação sexual não-planejada
e desprotegida, uso inadequado de métodos anticoncepcionais,
falha anticonceptiva presumida e violência sexual (estupro).
A eficácia é tanto maior quanto mais precocemente for
introduzida a medicação.
Assim, temos que selecionar as futuras usuárias considerando
os fatores de risco e as contra-indicações, ao mesmo tempo
que solicitamos os exames complementares individualmente.
A OMS orienta para uma classificação das Condições de
Saúde, criando critérios para a prescrição dos métodos anti87
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
concepcionais. Vai da classe I (sem restrições ao uso do método)
à classe IV, quando os riscos são inaceitáveis para a saúde,
não devendo, portanto, ser utilizado o método.
As principais contra-indicações para o uso da AHOC são:
idade acima de 35 anos com fatores de risco presentes (ex. tabagismo),
hepatopatias graves, hipertensão arterial grave, doença
troboembólica (ou com antecedentes importantes), diabete
insulino-dependente com lesão vascular, câncer genital e mamário,
enxaqueca grave recidivante, além de outras doenças.
INJETÁVEIS
Trimestral - Na dose de 150 mg, em intervalos de 90 dias,utiliza-se o acetato de medroxiprogesterona, que, apesar de empregado
com fins contraceptivos, só recentemente foi reconhecido
pelo Ministério da Saúde para uso com este propósito.
Este método é considerado excelente para as mulheres
acima de 35 anos de idade e que apresentam contra-indicação
aos estrogênios.
Tem ainda a vantagem de ter diminuto percentual de
falhas, considerado semelhante ao da AHOC. Ele também oferece
forte proteção endometrial, principalmente nas mulheres
portadoras de hiperplasias, doença que não é incomum nessa
faixa etária.
Deve-se ter o cuidado de acompanhar, de maneira correta,
as usuárias do método, em relação aos seus possíveis efeitos
metabólicos. Os estudos demonstram significativas elevações da
glicemia. Sabemos que as alterações no metabolismo dos hidratos
de carbono já são mais freqüentes nessa faixa etária, apesar da
menor ação dos deriva dos C21 sobre esse metabolismo.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Apesar de ser um derivado da hidroxiprogesterona (carbono
21), não possuindo, portanto, ação androgênica, há estudos
que mostraram discreta redução na lipoproteína protetora
de aterosclerose (HDL). Parece não interferir nos fatores
de coagulação e na hipertensão arterial, bem como, não aumenta
o risco de neoplasias.
A grande desvantagem – além de ser substância de ação
prolongada (de depósito), cujos efeitos permanecem por muito
tempo – refere-se às modificações do padrão menstrual.
Entre elas, a mais freqüente é a amenorréia seguida de
irregularidades menstruais. Estas alterações fazem com que se
acentue a descontinuidade do método.
Mensal - No Brasil, são comercializadas várias associações; entreeles, o progestagênio acetofenida de diidroxiprogesterona (150
mg), com o estrogênio enantato de estradiol (10 mg). É apresentada
em ampolas, cujo conteúdo deve ser aplicado, por via intramuscular
profunda no 8º dia do ciclo mestrual. Entretanto, nãose deve massagear a região, pois isto dificulta a absorção.
Devido às altas doses de estrogênio, o uso do método pode
aumentar o risco de hiperplasia endometrial, bem como promover
alterações menstruais.
Apesar da sua grande eficácia, pelo que foi relatado, não
prescrevemos, no momento, em geral, essa associação
anticonceptiva para mulheres na faixa climatérica.
Outras associações foram lançadas no mercado farmacêutico
nacional: o enantato de noretisterona (50 mg) associado
ao valerato de estradiol (5,0 mg), aplicada nos primeiros
cinco dias do fluxo menstrual, e o acetato de medroxiprogesterona
(25 mg) associado ao valerato de estradiol (5,0 mg), utilizado
de forma semelhante à anterior.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Foi na década de 70 que se iniciaram os estudos com dois
novos compostos, numa cooperação entre a OMS e laboratórios
farmacêuticos, envolvendo dois preparados injetáveis mensais:
HRP 102 e HRP 112. Depois de 15 anos, os estudos fase I, II e
III foram concluídos e as preparações comercializadas, e atualmente
constituem uma alternativa contraceptiva real para as
mulheres. Vários desses estudos durante a fase III foram realizados
na América Latina, especialmente com o HRP 102 (valerato
de estradiol e enantato de noretisterona). Em termos gerais, apresentam
boa proteção contraceptiva, bom controle do ciclo e poucas
reações adversas. A primeira injeção intramusclar é aplicada
no 1º dia do ciclo menstrual (ou 1º dia da menstruação). As
injeções subseqüentes são administradas, independentemente do
padrão menstrual, em intervalos de 30 ± 3 dias, isto é, no mínimo
27 e no máximo 33 dias. Transcorrendo intervalos de injeção
superiores a 33 dias, não se pode garantir, a partir desta data,
a eficácia contraceptiva necessária. O medicamento representa
uma alternativa contraceptiva eficaz e segura para aquelas mulheres
que desejam prevenir a gravidez, mas que apresentam
impedimentos à utilização de contraceptivos orais por
hepatopatias, intolerância gástrica ou hipertensão arterial. Por
conter estrogênio natural (valerato de estradiol) comumente utilizado
na terapia hormonal no climatério, os efeitos adversos relacionados
ao estrogênio estarão minimizados. Além disso, apresenta
elevada eficácia também no uso típico (uso cotidiano) por
não requerer participação diária da usuária durante o uso. Os
estudos demonstram ser opção como elevada eficácia especialmente
na pré-menopausa pela facilidade de uso, elevada
tolerabilidade e baixa incidência de efeitos adversos.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
DISPOSITIVO INTRA-UTERINO (DIU)
O dispositivo intra-uterino é considerado por muitos
como um excelente método anticonceptivo, para a mulher acima
dos 35 anos.
A ausência de efeitos sistêmicos e a elevada taxa de continuidade
– além da sua eficácia, que se encontra aumentada
nesse período de vida da mulher – são fatores relevantes que
conferem ao método larga aceitação.
É importante, ainda, ressaltar como vantagem, a não-necessidade
de motivação anticonceptiva do casal.
Quando inserido, o DIU de cobre pode permanecer “in
situ” na cavidade uterina por um período de sete (TCU 200 e
250) a dez anos (Tcu 380A e 375), segundo recente orientação
da Organização Mundial de Saúde.
Deverá ser removido após doze meses da última
mestruação (menopausa).
Como desvantagens do método, citam-se: a) discussõesestéreis sobre seu mecanismo de ação; b) em caso de falha, aspossíveis complicações de uma gravidez;
c) o aumento do riscode doença inflamatória pélvica (DIP), apesar de o risco neste
período ser bem menor, pelo fato de a mulher ter, em geral,
vida sexual mais estável; d) a freqüência de irregularidadesmestruais (hipermenorragias). Neste último ítem temos que
realizar acurada investigação para afastarmos as alterações do
fluxo decorrentes de doenças genitais.
Como principais contra-indicações para uso do DIU,
temos: a) suspeita de gravidez; b) câncer uterino (cervical ouendometrial); c) DIP aguda ou crônica; d) hemorragia genital;
e) anemia intensa; f ) anomalias uterinas; g) prenhez ectópicaprévia; h) sensibilidade ao cobre.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
As complicações clássicas do DIU, quase sempre, são menos
prevalentes na mulher acima dos 35 anos de idade.
Alguns estudos estão em andamento visando melhorar,
ainda mais, a sua eficácia e a sua segurança.
Os contraceptivos intra-uterinos ainda são subutilizados
e discriminados em muitas regiões do planeta, inclusive no Brasil,
como conseqüência de crenças populares e preconceitos (p. ex.
efeito abortivo) disseminados também pela ignorância dos próprios
profissionais de saúde em relação ao manejo do método,
ao lado do medo injustificado de complicações e efeitos adversos
tais como sangramento excessivo, infecções pélvicas, gravidez
ectópica e cistos ovarianos. O sistema intra-uterino liberador
de levonorgestrel (SIU-LNG) consiste de uma estrutura de
polietileno em forma de “T”, impregnada de sulfato de bário
para torná-lo visível aos Raios-X, que apresenta em seu corpo
vertical (com 32 mm de comprimento), um cilindro com uma
mistura de polidimetilsiloxano e levonorgestrel. Este cilindro
está envolto por uma membrana também de polidimetilsiloxano
que regula a liberação de levonorgestrel. Contém 52 mg de
levonorgestrel, apresentando taxa inicial de liberação de 20
mcg/24 h durante 5 anos.
Os efeitos contraceptivos e terapêuticos desse dispositivo
baseiam-se nos efeitos locais do LNG na cavidade uterina, como
por exemplo, a inibição da proliferação endometrial e o
espessamento do muco cervical. Esse efeito sobre o endométrio
também diminui progressivamente o fluxo do sangramento
menstrual.
Existem basicamente dois mecanismos principais através
dos quais exerce seu efeito contraceptivo, e que são baseados
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
nos efeitos locais do hormônio levonorgestrel (LNG) dentro da
cavidade uterina: inibição da proliferação endometrial e modificações
no ambiente intra-uterino, e espessamento do muco
cervical. As modificações locais no ambiente intra-uterino (a
hostilidade do endométrio e uma discreta reação de corpo estranho)
inibem a motilidade e função dos espermatozóides,
prevenindo a fertilização. As alterações no muco cervical e nos
líquidos uterino e tubário, também atuam na prevenção da fertilização.
Em uma porcentagem de mulheres a ovulação é inibida.
Assim o SIU-LNG tem elevada eficácia contraceptiva,
com a vantagem de ser reversível. A taxa de gravidez absoluta
no primeiro ano de uso é de 0 a 0,2% e a taxa cumulativa nos
5 anos é de 0,5 a 1,1%. O índice de Pearl é de 0,14 gravidezes
em 100 mulheres-ano. Além da contracepção, o endoceptivo
pode ser indicado no tratamento da menorragia idiopática e
também na prevenção da hiperplasia endometrial durante a
terapia de reposição estrogênica.
MÉTODOS DE BARREIRA
São métodos que impedem a ascensão do espermatozóide
em direção ao colo uterino e, conseqüentemente, ao óvulo. São
práticas anticoncepcionais muito antigas, que atuam como barreira
mecânica (condom – diafragma vaginal) ou química
(espermaticidas e esponjas).
Em relação à maioria dos outros métodos anticoncepcionais,
apresentam menor eficácia e maior custo, além de interferirem,
de maneira direta e negativa, nas atividades sexuais do
casal.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Os métodos mecânicos, quando utilizados corretamente,
proporcionam bons resultados, com pequena incidência de efeitos
colaterais. Isto sem falar na proteção que oferecem contra a
disseminação das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e
na DIP.
Condom (Preservativo Masculino e Feminino)
Conhecido como preservativo, camisa de vênus ou camisinha,
é usado em todo o mundo. Quando utilizado corretamente,
confere excelente eficácia anticonceptiva, além do já
citado efeito protetor contra as DST e a DIP. É método simples,
que não requer acompanhamento médico e é praticamente
isento de efeitos colaterais.
Sabemos que a idade mais avançada, a motivação do casal
para que não ocorra gravidez, melhor condição
socioeconômica e maior tempo de convivência do casal – que
são condições próprias do casal maduro – influem positivamente
quanto à eficiência do método.
Entre as suas desvantagens, podemos citar a redução da
sensibilidade nos órgãos genitais durante o coito e também sua
participação direta na atividade sexual, o que poderá trazer,
como conseqüência, a exacerbação de problemas psicossociais,
como, por exemplo, a impotência sexual, que por si já é mais
freqüente no grupo em estudo.
Diafragma Vaginal
É constituído de uma fina cúpula de borracha com borda
endurecida, porém flexível. É introduzido na vagina e adaptado
no espaço compreendido entre a parte inferior do púbis e
o fórnice posterior da vagina. São fabricados em vários diâme94
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
tros, sendo mais usados os que têm de 60 a 85 mm. Devemos
ressaltar que a presença do médico é imprescindível na condução
do método. Após conferir o encaixe do artefato, que deve
ficar bem ajustado para evitar o seu deslocamento durante o
ato sexual, cabe ao ginecologista instruir adequadamente sobre
o seu uso.
Em nosso modo de ver, a sua única vantagem é de não
ocasionar alterações sistêmicas. Todavia, na faixa climatérica, a
experiência do casal pode influir para a melhor aceitação do
método.
Como desvantagens, citaríamos a sua interferência no ato
sexual, exigindo um verdadeiro ritual, o seu maior custo e a
necessidade de um mínimo de cultura por parte da paciente
para o adequado uso do método.
Entre as contra-indicações assinalam-se: a) mulheres portadorasde distopias genitais (prolapso uterino, cistocele e
retocele), situações mais encontradiças na faixa climatérica; b)
alergia à borracha; c) baixo nível intelectual; d) infecções vaginaisde repetição.
Espermaticidas
É um método anticonceptivo químico, cuja atuação consiste
na introdução de uma substância na vagina que exerça efeito
nocivo sobre o espermatozóide. Podem ser encontrados sob
várias apresentações (geléia, creme, supositórios, espuma, etc.).
O produto mais conhecido e utilizado no Brasil é o
monoxinol-9 na apresentação de supositórios com 100 mg de
substância ativa.
Como vantagem da sua aplicação na mulher acima de
40 anos, citaríamos a sua ação como lubrificante vaginal.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
No que diz respeito às desvantagens, os espermaticidas,
além de serem pouco eficazes, acarretam, à semelhança do diafragma,
alguns inconvenientes para a atividade sexual.
Esponjas
Trata-se de uma esponja produzida de colágeno ou de
poliuretano que libera o espermaticida monoxinol-9. Serve
como citação.
MÉTODOS NATURAIS OU COMPORTAMENTAIS
Como métodos naturais ou comportamentais, consideramos:
a) o método rítmico. Temos os de Ogino-Knaus, o datemperatura basal, o do muco cervical e, ainda, o sintotérmico
(combinação dos dois últimos). Consistem em evitar o contato
sexual na época fértil do ciclo menstrual. Em geral, não devem
ser indicados na mulher climatérica, pois, neste período, quase
sempre, os ciclos são irregulares, o que compromete ainda mais
a sua eficácia; b) coito interrompido: a retirada do pênis nomomento da ejaculação não deve ser estimulada, principalmente
nesta faixa etária.
MÉTODOS CIRÚRGICOS - ESTERILIZAÇÃO FEMININA
Tema controverso nos seus variados aspectos e sobre o
qual pretendemos analisá-lo de forma bastante objetiva, como
uma contribuição ao estudo da anticoncepção cirúrgica na
mulher climatérica: 1) Ligadura tubária – como métodoanticonceptivo só ganhou credibilidade a partir da década de
50. A anticoncepção cirúrgica voluntária é, no momento, adotada
por um número sempre crescente de mulheres em todo o
mundo. O aumento do número de clínicas de planejamento
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
familiar, maior número de profissionais interessados no problema,
melhor compreensão por parte dos casais quanto ao
método, a simplificação do ato cirúrgico e a queda de algumas
barreiras legais, culturais e religiosas condicionaram, sem dúvida,
maior aceitação do método. A eficácia e um mínimo de
complicações conferem ao método, quando bem indicado, a
segurança desejada pelos casais.
Particularmente, não realizamos a anticoncepção cirúrgica
voluntária, em nenhuma faixa etária, pensando em
reversibilidade, pois consideramos o método como definitivo
(ainda mais na faixa climatérica). Somos da opinião que o casal
orientado deve refletir bastante e decidir sobre sua prole, dentro
das suas peculiaridades.
Tentaremos dar ênfase ao método em alguns aspectos relacionados
com a faixa climatérica, período este que, em nossa
óptica, reside a grande indicação da ligadura tubária.
Ao selecionarmos a mulher para a anticoncepção cirúrgica,
alguns cuidados são fundamentais. Todas as candidatas ao
método submetem-se, obrigatoriamente, ao estudo da cérvice
uterina e são avaliadas se estão em boas condições de saúde
física e emocional. A avaliação clínica pré-operatória fundamenta-
se, basicamente, na história médica, no exame físico e
nos exames laboratoriais.
Indicações da Anticoncepção Cirúrgica
Indicamos ou aceitamos realizar o método: a) em mulherescom 35 anos ou mais e com prole definida; b) multiparidade, com ou sem doença; c) doenças que contra-indicam uma gestação.
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Momento do Ato Cirúrgico
- Cesariana
- Pós-parto Imediato (periumbilical – Sauter)
Tardio
- Cirurgia Abdominal
Vaginal
- Qualquer outro período
Vias de Acesso-Métodos
1. Laparotômica;
2. Minilaparotômica;
3. Laparoscópica;
4. Colpotômica;
5. Culdoscópica.
Técnicas
1. Laparotomia (por ocasião de uma cirurgia abdominal)
2. Minilaparotomia (Osathananch - 1973)Madlener Fio não-absorvível (1910)
Aneis de Yoon
Pomeroy Fio absorvível (ligadura e secção - 1930)
Irving Sepultamento da fímbria no ligamento
largo (1934)
Kroener Fimbriectomia (1935)
Uchida Ressecção da porção distal da tuba e sepultatamento
da proximal, no ligamento largo (1961)
Particularmente, utilizamos apenas a técnica de Pomeroy
por ser simples e eficaz. Não vemos vantagem em utilizar nenhuma
das outras técnicas porquanto elas pouco diferem entre
si. Em geral, empregamos a minilaparatomia, realizando
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
incisão transversa suprapúbica não maior do que três centímetros,
com a paciente em posição ginecológica. A cirurgia é precedida
da colocação intracervical da alavanca de Vitoon, que
tem as funções de elevar e orientar o útero.
Nas puérperas, até 36 horas após o parto, utilizamos a via
infra-umbilical, com a paciente em decúbito dorsal.
3. LaparoscopiaAnéis de Yoon e de HULKA (silastic)
Clípe de Filshie
Eletrocoagulação Bipolar – baixa voltagem
Termocoagulação Baixa temperatura
Contra-indicações
- Absolutas Doença cardíaca
Doença pulmonar
- Precauções Obesidade exagerada
Múltiplas cirurgias abdominais
Hérnia umbilical
História de DIPA
A experiência do profissional é fundamental em relação
às contra-indicações relativas.
4. ColpotomiaAnterior (por ocasião da cura de cistocele)
Posterior (fimbriectomia)
Seleção das pacientes Relaxamento do assoalho pélvico
Ausência de DIP
5. Culdoscopia Minicolpotomia + endoscopia(em desuso)
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
Anticoncepção Cirúrgica. Complicações
- Lesão de alças intestinais;
- Lesão de epiplon;
- Lesão ou perfuração uterina;
- Hemorragias – Hematomas;
- Infecção;
- Enfisema mediastínico;
- Embolia pulmonar;
- Problemas cardíacos e respiratórios.
Síndrome Pós-Ligadura Tubária
Apesar de controverso, na nossa opinião, a técnica empregada
na ligadura e secção das tubas é de capital importância
para o problema.
Com os conhecimentos adquiridos sobre a irrigação dos
ovários e tubas e, procedendo a ligadura tubária sem envolver
vasos sangüíneos importantes, com uma alça que não ultrapasse
os 7mm, na região ampolar, não observamos alterações significativas
do ciclo menstrual.
Temos que ressaltar que, após os 35 anos, algumas mulheres
que se submeteram à ligadura tubária já apresentavam
sinais de insuficiência ovariana ou faziam uso dos AOC, prejudicando
portanto, uma melhor análise.
Esterilização Tubária
Assim, pode-se concluir que a esterilização tubária:
a) Método eficaz;
b) Boa aceitação;
c) Complicações excepcionais;
d) Método deve ser considerado como irreversível;
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FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
e) Execução simples, recomendando-se a ligadura e secçãoao nível do terço proximal;
f) Relação benefício – custo favorável;
g) Recomendado preparo do casal;
h) Recomendada adoção de formalidade legal;
i) A época adequada para a execução deve ficar a critériomédico;
j) Síndrome pós-ligadura é de existência duvidosa.
Aspectos Éticos
a) Não há questão de natureza essencialmente ética envolvidana esterilização voluntária;
b) As questões levantadas em nome da ética dizem mais diretamenterespeito a outros valores culturais.
Histeroscopia
Oclusão dos óstios tubários por meio da inserção de um
eletrodo que recebe uma corrente de coagulação, procedendo-
se, antes, a distensão da cavidade uterina.
O método, nos permite visualizar a cavidade endometrial
fazendo-se, desse modo, também a propedêutica da hiperplasia
endometrial. Torna-se uma opção para muito poucos serviços.
Salpingectomia
Não vemos nenhuma razão para realizarmos a salpingectomia
bilateral com fins anticonceptivos. Igual opinião em relação
a ovariopexia.
Histerectomia
Alguns estudos demonstram que a histerectomia não deve
ser realizada como método cirúrgico feminino, devido às frequen101
FEBRASGO - Manual de Orientação Climatério
tes complicações, quando comparada com os outros métodos.
Essas considerações reforçam a nossa opinião de não aceitarmos
a histerectomia como método anticonceptivo.
Em casos excepcionais, na presença de alguma doença
uterina associada, podemos indicá-la como complementação
da terapêutica.
Em síntese, como método cirúrgico feminino, em geral,
só indicamos a ligadura tubária por meio da minilaparotomia
ou da laparoscopia.
A vasectomia deve ser estimulada em qualquer Serviço
de Planejamento Familiar, e executada por profissionais treinados
para esse fim.
As complicações são raras.